“Este é o meu Filho muito amado; ouvi-o” (Mc 9, 7)
Ir. M. Nilza Pereira da Silva – Na origem de Schoenstatt, como raiz da qual nasceu essa grandiosa Obra divina está o acontecimento histórico da transfiguração de Cristo, no Monte Tabor. Pe. José Kentenich apresenta essa imagem também como objetivo da Aliança de Amor: “Não seria possível que a Capelinha de nossa Congregação se tornasse nosso Tabor, no qual se manifestem as magnificências de Maria?”[1]
Pe. Rodolfo Mosbach explicava sempre que a ideia de selar a Aliança de Amor foi se desenvolvendo no coração do Pe. Kentenich, de 18 de julho (quando ele leu o artigo sobre Pompeia) até 18 de outubro. Percebemos isso porque a essência das celebrações litúrgicas desse período está contida na conferência, que se tornou o Documento de Fundação. Portanto, o sentido da festa do Tabor, em 6 de agosto, foi uma das portas que Deus abriu para que nosso Fundador captasse a missão que lhe confiara, em seu carisma.
Ali vemos que os Apóstolos são imersos no relacionamento de amor entre o Pai e o Filho, ou seja, na força do Espírito Santo: “Este é o meu Filho muito amado; ouvi-o”. (Mc 9, 7) Ou seja, o segredo da transfiguração está no profundo vínculo de amor. Estar envolto nessa força divina satisfaz plenamente os anseios do coração, tanto que Pedro fala, em nome de João e Tiago: “Mestre, é bom para nós estarmos aqui! Façamos três Tendas…” (Mc 9, 5)
Podemos dizer que o Tabor é a síntese de todo o ensinamento de Jesus, pois suas palavras e ações não são outra coisa, senão, conduzir as pessoas ao Pai, ajudá-las a crer no amor do Pai e estarem dispostas para realizar a sua vontade. Vindo do Pai e sendo um só com o Pai, Jesus sabe que o sentido da vida humana e a realização plena de nossos anseios se dão quando, como Ele, vivermos imersos no amor do Pai. Ele designou a si mesmo “caminho” para esse encontro: “Ninguém vai ao Pai, senão por mim” (Jo 14,6) Quem me vê, vê o Pai!” (Jo 14,9)
Por isso, Deus quer que Maria se estabeleça na pequena Capelinha, em Schoenstatt, e a torne um Tabor. Porque a humanidade precisa de sua ação materna, de sua ternura que abre os corações para Cristo, no qual vamos ao Pai. Pe. Kentenich ensina que no Santuário de Schoenstatt Maria deve manifestar suas glórias e “sua tarefa consiste principalmente em conduzir o mundo a Cristo.”[2] Imergir-se em Cristo é participar de seu amor ao Pai. “Quero estar tão profundamente unido a Jesus, que o Pai precise me bradar: ‘Eis meu filho muito amado!’ Porque, se estou unido a Jesus, ele precisa me olhar com complacência,” continua o Pe. Kentenich. Cada pessoa que, com fé, entra em contato com o Santuário, pela presença atuante de Maria, nesse Tabor, vivencia com intensidade o mistério de amor, do vínculo pessoal, terno e profundo entre Deus como Pai e eu como filho, em Cristo.
Todo Fundador recebe de Deus um carisma que é graça e missão
Isso se deu também com o Pe. Kentenich: Se a meta da Aliança de Amor é fazer da capelinha um Tabor, o primeiro Tabor é seu coração. Pela atuação materna de Maria, em sua vida ele recebe, como dádiva da graça divina, o dom de vivenciar-se como esse filho no Filho e de uma participação no amor paterno de Deus. “Tudo o que sou e tenho eu o devo à Mãe de Deus,” disse certa vez. Ele estava consciente desse dom e missão paternal e a exercera com cuidado, desprendimento e responsabilidade. Junto dele, muitos vivenciaram que eram muito amados e, a partir dessa experiência, vincularam-se mais profundamente a Deus. Pe. Alberto Eronti, da Argentina, relata a sua experiência após um encontro com ele: “Se nosso Pai já é assim, como será o bom Deus?” Desse modo, tiveram a alegria de transfigurar a realidade, ou seja, ver o amor de Deus presente e atuante em todos os acontecimentos.
Tabor: o amor do Pai é nossa missão!
Poderíamos permanecer ainda muito tempo nessa reflexão. Mas, confio que o Espírito Santo ajuda cada um a seguir no pensamento que Deus deseja lhe inspirar com a celebração litúrgica do Tabor. O essencial é que as graças dessa celebração atuem em nosso coração de forma criadora e a vivência de Jesus se torne também nossa: “Sou um filho muito amado do Pai!” A partir do Santuário, “Maria é a mãe que, com paciência e ternura, nos leva a Deus, para que Ele desate os nós da nossa alma.”[3]
E que essa experiência de amor nos ajude a “suscitar no outro a alegria de sentir-se (também) amado… de modo particular, no debruçar-se com delicada atenção sobre os limites do outro, especialmente quando aparecem de forma evidente.”[4]
Dessa forma “cuidaremos que não somente nossa pequena Família, mas o Brasil todo, sim, grande parte do mundo – até podemos crer que o mundo inteiro, um dia se tornará Tabor de nossa Mãe e Rainha de Schoenstatt.” [5]
Referências:
[1] Documento de Fundação, 18 de outubro de 1914
[2] Pe. Kentenich, Londrina, 21/4/1947
[3] https://www.vatican.va/content/francesco/pt/speeches/2013/october/documents/papa-francesco_20131012_preghiera-mariana.html
[4] Papa Francisco, Amoris Laetitia
[5] Pe. José Kentenich 31/5/1967