Em nossos estudos sobre os Sacramentos, continuamos a aprofundar um pouco sobre a grandeza e a bênção do matrimônio. Neste artigo, Flávia C. Ghelardi* apresenta um tema muito importante, que, infelizmente, alguns desconhecem: Há condições para que um sacramento do matrimônio seja válido! Aqui, Flávia nos apresenta quais são elas:
Os quatro sim que o casal dá, livremente, no altar, isto é, na celebração do casamento. Ao contraírem o sacramento do matrimônio, os noivos dizem quatro vezes “sim” no altar, às perguntas realizadas pelo sacerdote e estes “sim” correspondem às condições para que aquele matrimônio seja realizado plenamente, isto é, são condições para a validade do sacramento. Essas perguntas são feitas para que a Igreja tenha certeza de que o casal está se comprometendo em virtude de um amor verdadeiro.
O amor verdadeiro é livre
A primeira pergunta: “Viestes aqui para unir-vos em matrimônio. É de livre e espontânea vontade que o fazeis?” corresponde a LIBERDADE, pois estão assumindo aquele compromisso sem qualquer tipo de coação, tendo escolhido um ao outro, livremente, para trilhar o caminho do matrimônio. Sem liberdade, não existe amor.
O amor verdadeiro é total
A segunda pergunta: “Abraçando o matrimônio, ides prometer amor e fidelidade um ao outro. É por toda a vida que o prometeis?” corresponde à totalidade, ou seja, a entrega total de uma pessoa a outra pessoa por toda a vida. O verdadeiro amor exige esse compromisso por toda a vida e essa entrega sem reservas à pessoa amada. Os cônjuges dão ao outro tudo o que são e o que tem para poderem se tornar verdadeiramente uma só carne.
O amor verdadeiro é fiel
A terceira pergunta: “Prometem ser fiéis, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença. amando-se e respeitando-se por todos os dias das suas vidas?” corresponde à exigência da fidelidade.
A fidelidade abrange muito mais do que simplesmente não sair com outra pessoa, pois a traição propriamente dita é o ápice da infidelidade, mas existem várias outras formas de infidelidade dentro do casamento, as quais é preciso conhecer e se prevenir.
0 amor se mantem puro quando vence todo o egoísmo que instrumentaliza o outro e também quando afasta todos os outros “amores” que o afasta do outro. Esses outros “amores” podem ser o trabalho, as amizades, as convicções políticas ou religiosas, os próprios pais ou parentes, as preferências de lazer, etc. Tudo aquilo que não pode ser integrado, que não pode conviver com o cônjuge, deve ser repelido.
Não se deve brincar com fogo, nem “baixar a guarda”. O casal sempre deve estar alerta para não deixar que nada e ninguém os separe interiormente de seu cônjuge, pois já seria uma infidelidade.
A fidelidade consiste ainda em cuidar que o amor conjugal seja um amor criador, no sentido de que cada cônjuge se preocupe em melhorar sempre, em se aperfeiçoar para o bem do outro. Significa ainda procurar criar um ambiente no lar que seja agradável ao outro, buscando tornar-se sempre mais interessante ao outro, mais delicado, mais oportuno, enriquecendo o diálogo, vencendo a tentação do amor que atua por dever.
Exemplo de vida
A Beata Ana Maria Tagi, foi uma esposa e mãe italiana, possuía alguns dons místicos e, por causa disso, frequentemente recebia visitas de bispos, cardeais, papas e estadistas, que iam pedir seus conselhos. Seu esposo, Domenico Taigi, conta: “Acontecia frequentemente que, chegando em casa para trocar de roupa, encontrava muita gente desconhecida que vinha consultar com minha mulher. Mas, ela, logo que me via, deixava qualquer um – mesmo que fosse um bispo ou uma senhora importante – para me atender, servir-me comida e ajudar-me, com o imenso carinho de esposa, que sempre teve para comigo. Era perceptível que o fazia de todo coração.”1
O amor verdadeiro é fecundo
Por fim, a quarta pergunta: “Estais dispostos a receber com amor os filhos que Deus vos confiar, educando-os na lei de Cristo e da Igreia?” diz respeito à fecundidade matrimonial.
Todo amor verdadeiro é fecundo, produz frutos, pois ao se doar inteiramente ao outro, para que o outro seja feliz, aquele que ama vê seu amor frutificar, se reproduzir, vê o crescimento e amadurecimento do outro.
Os cônjuges são chamados a gerar novos filhos de Deus, a preparar novos membros para o Corpo de Cristo, a preparar novos cidadãos para o Reino dos Céus, assim como Cristo e a Igreja geram novos filhos de Deus. Os pais dão vida ao corpo e Deus dá vida à alma. Essa missão é sublime: os pais são cocriadores com Deus de novas almas imortais!
O pertencimento mútuo
Pe. José Kentenich, nosso Pai e Fundador diz na homilia de um casamento, nos EUA:
“Os dois escolhidos dão-se mutuamente a mão, trocam suas alianças e pronunciam o SIM recíproco. São coisas que se podem observar frequentes vezes na vida… Se interpretais isto agora, sentis então, que esta solenidade singela tem um conteúdo simbólico sumamente profundo…
Ninguém mais, futuramente, terá o direito de ocupar um lugar no coração dos dois, que de qualquer maneira diminua o direito mútuo. Portanto, longe daqui! Tira as mãos! Tira a mão do coração! Tira a mão do corpo! Tira a mão da sorte de vida! Nós nos pertencemos mutuamente… Que significa isto para a humanidade moderna que quase não conhece mais fidelidade, não conhece mais proibidade, porque está sempre de novo aberta, inflamável para valores, para atrações e solicitações de fora?…
Depois veremos ambos se aproximarem do altar, e desta maneira eles confessam pertencer-se mutuamente, quer estejam na vida pública, quer sejam honrados ou recusados, sejam crucificados ou se lhes bradam hosanas. Tão profundo é o sentido simbólico desta solenidade singela e simples.”
1 “Matrimônios santos – Os santos casados como modelos de espiritualidade conjugal”, Pe. Thomas Kevin Kratf OP, Editora Cleofas, 2016, Pg. 31
*Flávia e seu esposo Luciano são membros da União de Famílias de Schoenstatt