Qual o valor dos pequenos trabalhos que realizamos dia a dia?
Ir. M. Ana Paula R. Hyppólito – O Pe. José Kentenich se ocupou muito com a importância do trabalho em suas conferências. No livro Santidade de Todos os Dias encontramos:
A ânsia de felicidade está inseparavelmente unida à natureza humana. Tudo o que fazemos e omitimos é influenciado por ela. (…) Há incontáveis fontes de felicidade. (…) Entre as fontes puras de felicidade está o trabalho. (…) Quando nos sentimos mais felizes? Nos tempos de pouco ou nenhum trabalho, nos quais estávamos totalmente entregues a nós mesmos, aos nossos pensamentos, devaneios e sonhos? Aqueles que conviveram conosco sofreram muito por nossa causa em tais tempos. Éramos um fardo para eles e para nós. Estávamos descontentes conosco e nos tornamos intratáveis, aborrecendo também os outros. O mesmo se dá na vida das comunidades e dos povos. Tempos de calma e sem trabalho, sempre foram propícios à revolução. “A ociosidade é mãe de todos os vícios” — diz um provérbio. Se isto já sucede na vida particular, quão devastador deve ser o desemprego quando se apresenta como um fenômeno das massas. (…) O mais conveniente é alternar com prudência o trabalho e o descanso. Isto nos convence de que o trabalho deve ser realmente uma fonte insubstituível de felicidade. [1]
Neste tempo de pandemia, o fenômeno do desemprego cresce, mas também cresceu o número de trabalhadores que tiveram que permanecer em casa, seja por redução ou suspensão de contrato ou para trabalhar em home office. Isso significa que passam muito mais tempo em casa, deparando-se com os trabalhos domésticos.
Trabalhos simples? Mas, o que acontece quando eles não são feitos?
Conceitua-se o trabalho doméstico muitas vezes como “trabalho simples”, “oculto”, “pequeno”, “trabalho nos bastidores” e até, pejorativamente, como “trabalho inferior” ou “servicinho”… Dá a impressão que esses trabalhos são menos importantes… Mas, você já percebeu o que acontece quando eles não são feitos? Aliás, só percebemos a importância de alguns trabalhos, quando eles não são feitos! Quando a casa está limpa e impecável, a cozinha está brilhando, as refeições estão à mesa, a roupa lavada e passada, nem nos lembramos de agradecer e até tomamos por natural que alguém fez tudo isso para nós… Mas quando o contrário acontece… A reclamação vem na certa!
Esses trabalhos “simples” ou “pequenos”, na verdade, são muito grandes, são a base e o suporte para que qualquer pessoa ou família se desenvolva sadiamente, com alegria, com boa disposição. Tudo é importante: a limpeza, a organização, a alimentação preparada com amor, pensando em cada um, as compras… Tudo é também um sinal bem concreto e visível de amor. É claro que esses sinais não podem ser substitutos do afeto, do diálogo, de palavras carinhosas, mas são um complemento, aliás, uma comprovação do “eu te amo”, do abraço e do carinho. Servir o outro na família, seja o cônjuge, os filhos, os pais, enfim, é um jeito concreto de caridade, de amor ao próximo, “mais próximo”. Vemos no Servo de Deus João Luiz Pozzobon um grande exemplo disso.
Vamos fazer isso juntos, em família?
Em nossos dias, os adultos ensinam as crianças e jovens a ocuparem seu tempo com o estudo. Isso é ótimo! Mas sabemos que ninguém consegue estudar o dia inteiro! O tempo das crianças, adolescentes e jovens precisa ser alternado com o estudo, o lazer, a convivência, o descanso, mas também com o trabalho doméstico. Sim! Faz parte de uma educação sadia, ensinar as crianças a arrumarem sua cama, guardarem seus brinquedos, cadernos, calçados, deixarem seu guarda-roupa em ordem… E quando já são maiores, ajudarem a lavar a louça e guardá-la, a limpar a casa, a cuidar do animal de estimação, a lavar seu próprio tênis, etc. Se o fizermos desde cedo, colheremos bons frutos, estaremos educando a jovem geração a assumir responsabilidades e a se sentir útil, favorecendo sua autoestima, sua sadia consciência de valor.
As atividades domésticas podem se tornar uma fonte de companheirismo e união da família, se todos colaborarem, se forem conscientizados, com amor e não com reclamações, que cada um tem a sua parte neste todo e pode colaborar para o bem-estar da família.
Os trabalhos tidos por “femininos” são, na verdade, um dever de cada membro da família! E pode realmente ser uma grande fonte de unidade, de solidariedade! Quando cada um: pai, mãe e filhos e demais pessoas que por ventura morem junto: avós ou tios se ajudam mutuamente, assumem uma parte com toda a responsabilidade e exatidão, fica mais leve para os outros e todos se beneficiam. Não se pode tirar toda a atividade prática dos idosos (para poupá-los), pois sua autoestima decai, é importante que todos na família tenham a sua tarefa.
Esses trabalhos podem ter também um cunho profundamente apostólico se os fizermos em união com Deus e oferecendo ao Capital de Graças. Não precisamos oferecer cada coisa de momento em momento, mas já entregar tudo de manhã: Mãe, tudo hoje para o teu Capital de Graças! A Mãe aceita e transformará em bênçãos para muitas pessoas que necessitam de seu auxílio!
* Contribuição do Instituto Secular das Irmãs de Maria de Schoenstatt, Província Schoenstatt-Tabor, Atibaia/SP
[1] KENTENICH, Pe. José; NAILIS, Ir. M. Annette. Santidade de Todos os Dias. 1º Capítulo: A Vinculação ao Trabalho – O trabalho é uma fonte de felicidade