Esta é a capa do jornal Allgemeine Rundschau (Panorama Geral), edição do dia 18 de julho de 1914. O Pe. José Kentenich leu um artigo, neste periódico semanal de Munique, que o tocou de um jeito diferente. Na matéria, Pe. Cipriano Fröhlich, capuchinho, narra sua viagem ao Santuário de Pompeia, na Itália, e o que encontrou lá. A história deste Santuário é uma “porta aberta” que Deus indica ao Pe. Kentenich para a fundação de Schoenstatt. Confira a notícia do jornal:
Sobre uma Cidade de Morte, uma Cidade de Vida
Padre Cyprian Fröhlich, OFM Cap.
O velho Vesúvio lançava calmamente baforadas de fumo do seu longo cachimbo enquanto eu me deslocava de trem até Pompeia. Não era descrito como de costume, disparando fogo e fumo para o céu, limitava-se simplesmente a lançar as suas lentas e acinzentadas nuvens de fumo sobre as vilas, as cidades e o mar – como um velho na sua cadeira de balanço. Talvez o vulcão estivesse recordando a devastação causada pelos seus brilhantes rios de lava e pelas tempestades de cinzas e pedras, principalmente às duas antigas cidades de Herculano e Pompeia. Talvez lamentasse o desvendar destas Sodoma e Gomorra Romanas que o mundo todo agora vinha visitar. Mas, não temais, meu velho! Pompeia permanece uma cidade morta, mesmo se a Arte e a Ciência estudam, registram e dissecam o seu brilhante cadáver…. Mesmo que os modernos irmãos de Vênus queiram erigir, aqui e ali, altares à deusa impura, sossega, pois existe uma outra mulher que é muito mais poderosa que todos eles e que vai ultrapassálos novamente e erguer sobre eles uma outra devoção, tal como o fez há 42 anos nas ruínas de Pompeia: uma cidade de vida sobre a cidade da morte.
Valle di Pompeii
Que maravilhosas são as obras de Deus! O Senhor aparece sempre que o inimigo pensa poder ganhar – mas não como ele, com barulho e em massa, pois a verdade não precisa disso – com um silêncio discreto, preparando as suas vitórias por meio de pessoas desconhecidas. Foi assim em Belém, foi assim em Lourdes, foi assim em Pompeia.
Entrei no Santuário com o rosário na mão, sabendo apenas que estava num famoso lugar de peregrinação a Nossa Senhora, que abrigava um centro de acolhimento para filhos de criminosos… Rezei à Senhora entre centenas de italianos de todos os tipos de vida – eram dez horas da manhã e, embora fosse uma sexta-feira normal, dúzias de pessoas estavam em fila perto de vários confessionários…
Quando saí da igreja, vi o meu guia conversando com um senhor que imediatamente despertou a minha curiosidade. As suas feições não eram de todo relevantes, estava encurvado pelos anos e segurava um terço na mão. Os seus olhos estavam semicerrados e o seu semblante cansado refletia a memória de quem reza com devoção. Era visível a dificuldade da luta que travava por ter de deixar a sua oração interior. Logo que a conversa terminou, apressou-se a regressar ao Santuário da Senhora. “Quem era aquele homem piedoso?” perguntei. “Aquele era o advogado Bartolo Longo, que nos receberá dentro de uma hora”, respondeu-me o guia….
Tal como ele próprio admite e escreve, Longo fora “um pecador materialista e teimoso” durante 30 anos. Mas era, e ainda é, um homem com muito talento, um dos grandes juristas da Itália, e a graça de Deus consegue agir num homem talentoso. Em outubro de 1872 passeava pelas ruínas de Pompeia, refletindo sobre como reparar os seus pecados e reencontrar a paz do coração. Ouviu, de repente, uma voz interior tal como todos nós já ouvimos, uma voz de boa vontade: “Se queres encontrar a paz, espalha a devoção ao meu Rosário; pois quem proclama o Rosário jamais perecerá”. E o que fez este grande incrédulo e materialista? Aquilo que dois grandes gênios, Saulo e Agostinho, tinham feito antes dele e milhares de outros com eles: caiu de joelhos entre lágrimas e soluços – e rezou. E desta morte voluntária nasceu, como uma fênix nasce das cinzas, um novo mundo pleno de vida que eclipsou poderosamente a anterior vida da vizinha cidade da morte. Nasceu um lugar de peregrinação e uma cidade para crianças pobres, dando vida terrena a milhares de pobres e vida sobrenatural a milhões pelo mundo inteiro.
O Valle di Pompeii é visitado por um milhão de pessoas em cada ano, por vezes 50.000 pessoas num só dia, se é de festa. Como aconteceu tudo isso? Sim, esse é o milagre. Se a Madonna di Pompeii não tivesse feito milagres irrefutáveis, tal como estão descritos no folheto “O Lugar de Graça de Nossa Senhora do Santo Rosário no Valle di Pompeii”, o maior milagre seria o de conseguir que um advogado desconhecido de uma moderna Itália [unida] do pós-1871 encontrasse um lugar de peregrinação nas ruínas de uma cidade pagã….
Artigo do jornal ALLGEMEINE RUNDSCHAU (18 de julho de 1914)
Excelente artigo