A Mãe de Deus é elevada de corpo e alma ao céu
Ir. M. Neiva Pavlak – “Munificentissimus Deus” é o nome da Constituição Apostólica, escrita pelo Papa Pio XII, que proclama o dogma da Assunção de Nossa Senhora em corpo e alma ao céu, na data de 1º de novembro de 1950, festa de todos os Santos.
O texto da definição do dogma, contido na Constituição, é o seguinte:
“Pelo que, depois de termos dirigido a Deus repetidas súplicas, e de termos invocado a luz do Espírito de verdade, para a glória de Deus onipotente que à Virgem Maria concedeu a sua especial benevolência, para honra de seu Filho, Rei imortal dos séculos e triunfador do pecado e da morte, para aumento da glória da sua augusta Mãe, e para gozo e júbilo de toda a Igreja, com a autoridade de Nosso Senhor Jesus Cristo, dos Bem-aventurados Apóstolos S. Pedro e S. Paulo e com a Nossa, pronunciamos, declaramos e definimos ser dogma divinamente revelado que: A IMACULADA MÃE DE DEUS, A SEMPRE VIRGEM MARIA, TERMINANDO O CURSO DA VIDA TERRESTRE, FOI ASSUNTA EM CORPO E ALMA À GLÓRIA CELESTIAL” (n. 44).
“Pelo que, se alguém, o que Deus não permita, ousar, voluntariamente, negar ou pôr em dúvida esta nossa definição, saiba que naufraga na fé divina e católica” (N. 45).
A festa da Assunção da Mãe de Deus é celebrada pela Liturgia no dia 15 de agosto, mas, no Brasil, celebra-se no terceiro domingo do mês vocacional, que coincide com a comemoração da Vida Consagrada. Assim, vemos Maria como modelo de todas as vocações, e especialmente da vida consagrada já que, desde sempre, como Imaculada Conceição, pertenceu toda a Deus e confirmou sua pertença e entrega total, ao pronunciar o Sim decisivo ao chamado de Deus na hora da Anunciação.
Pe. José Kentenich, grande venerador de Maria, não se cansou de proclamar as suas magnificências. Muitas vezes repetiu as palavras de São Bernardo: “De Maria nunquam satis”, isto é, de Maria nunca se diz o suficiente! No Congresso de Outubro de 1950, ano da proclamação do dogma, ele pergunta: “que significa a fé na assunção de Maria ao céu – para nós?”
E responde em três pontos:
Significa um grande acontecimento dogmático!
Padre Kentenich explica que, com a proclamação do dogma da Assunção, a pessoal grandeza e dignidade da Mãe de Deus chegou à culminância e, com isso, temos estabelecida a ponte para a sua grande missão no reino de Deus, a Igreja. Ele sinaliza que “a imagem da querida Mãe de Deus apresenta duas linhas: a primeira caracteriza sua relação com Deus, e a segunda, sua posição na Igreja.” Seu relacionamento com Deus: Ela é a Mãe de Deus! Esta é sua maior dignidade e grandeza. Ela é Imaculada, sempre virgem, genitora de Deus, assunta ao céu. Por isso, o Grande Sinal no Céu é um acontecimento dogmático. Além disso, foi estabelecida a ponte da posição da Mãe de Deus em relação aos homens. Ela quer ser, ao mesmo tempo, vista, vivenciada, experimentada, venerada e reconhecida como a Mãe da Igreja, como a nossa Mãe.
Mesmo se a Igreja desde sempre creu nestas verdades, com a proclamação do dogma da Assunção, a Igreja coloca o selo definitivo e pede aos fiéis o obséquio da fé. A assunção de Maria ao céu deve aquecer o nosso coração de um grande amor por ela. O nosso grande amor nos leva a selar uma Aliança com Ela.
Um grande acontecimento pedagógico!
Por que um acontecimento pedagógico? Porque, como seres humanos, temos o sentido a necessidade de não só assimilar verdades abstratas, porém, queremos vê-las numa grande imagem, numa grande doutrina intuitiva: ver a Mãe de Deus como a viva e grande doutrina intuitiva! O homem de hoje é muito mais dependente de material intuitivo do que antigamente; ele quer ver, não só pensar, quer ver claramente, os sentidos querem movimentar-se. Por isso, o acontecimento da assunção deve ser visto como um compêndio de todas as grandes verdades católicas e ser apresentado com grande ardor…
Na época do analfabetismo (refere-se à Alemanha), a imagem da Mãe de Deus supria as necessidades dos que não sabiam ler nem escrever (imagem intuitiva). Hoje, quase não existem analfabetos, mas existem numerosas pessoas dependentes dos seus sentidos. Através da imagem da Mãe de Deus, o homem-filme tem uma profunda doutrina intuitiva sobrenatural, um compêndio intuitivo de toda a teologia, de toda a doutrina da fé. Podemos continuar e dizer: de toda a moral e de toda a ascese! A Mãe de Deus manifesta a dignidade antropológica e ontológica do ser humano, desejada por Deus.
Um grande acontecimento no mundo social!
Contemplamos a Mãe de Deus assunta ao céu em corpo e alma. Ela que viveu como nós neste mundo e sofreu tanto. Aqui na terra nunca conseguiremos resolver perfeitamente a questão social, por mais que nos empenhemos. As consequências do pecado original sempre concorrem com os nossos esforços humanos. A solução perfeita quer ver o aquém e o além, bem como na vida da Mãe de Deus, como uma grande unidade, uma totalidade orgânica. Desaprovações e injustiças têm um profundo sentido aqui na terra, e devem ajudar para que o homem chegue à transfiguração. Uma vez que aqui na terra não é possível um equilíbrio como o desejamos, esperamos a recompensa eterna. Esta é a primeira impressão que o grande Sinal no céu deixa em nossa alma. Esperar a recompensa eterna não significa, porém, conformar-nos com situações de injustiça, indiferença e falta de solidariedade. Devemos fazer valer o “nada sem vós, nada sem nós!”. Na vida da Mãe de Deus foi assim, ela sempre precisou colaborar com a sua parte na realização do plano de Deus.
Como este dogma impactou a história de Schoenstatt
Como schoenstattianos, nos vemos ligados à festa da Assunção da Mãe de Deus, de modo todo especial, quando recordamos o início da Campanha da Mãe Peregrina de Schoenstatt, há 70 anos. Ela surge precisamente de um empenho espiritual em preparação à proclamação do dogma da Assunção. No mês de setembro, surgiu no Movimento a ideia de fazer peregrinar três grandes imagens da Mãe e Rainha em forma de capelinha durante o mês de outubro. Uma dessas fora entregue, pela Ir. M. Teresinha Gobbo, ao Senhor João Pozzobon. Este a recebeu com muito amor e devoção e, após passar o mês de outubro visitando as famílias e rezando o Terço, sentiu-se chamado a continuar este apostolado junto às famílias, tendo em vista o desejo das mesmas em recebê-la. Portanto, celebramos os 70 anos da Campanha da Mãe Peregrina e da proclamação do dogma da Assunção de Maria ao céu.
Que a festa da Assunção de Maria seja um novo estímulo para que vivamos, como Maria, com o olhar voltado ao nosso Deus, que é a plenitude da nossa felicidade; que Ela nos visite todos os dias e nos prepare para a volta ao nosso lugar originário: Deus Pai.
Bibliografia
Pio XII, Papa. Munificentissimus Deus. Carta Apoastólica da proclamação do dogma da Assunção, 1950.
Pe. J. Kentenich. Congresso de Outubro de 1950; primeira parte. In: Liturgia diária, Irmãs de Maria (Não publicado).
Publicado em 2020