Tudo começa com um encontro pessoal com Jesus
Ir. M. Nilza P. da Silva – “Olhou-o com amor” , assim Mateus (10,20) começa a frase para explicar a atmosfera na qual Jesus chama um jovem para deixar tudo e segui-lo incondicionalmente. Quando lemos essa passagem da Sagrada Escritura, nossa mente cria uma imagem desse olhar, segundo uma vivência de ternura que já vivenciamos. Sabemos a força que tem um olhar terno que não somente vê, mas, que acolhe, que abraça, que aquece o coração e o liberta. Um olhar que fala mais do que palavras.
O anúncio do anjo a Maria foi para ela essa profunda vivência pessoal do amor de Deus e de seu sim ao chamado. “Meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador, porque ele olhou para a humildade de sua serva.” (Lc 1, 47-48) O Verbo se fez carne sob seu coração, transbordou em cantos pelos seus lábios e se fez doação serviçal.
Ainda hoje, esse mesmo olhar de amor está no começo da história vocacional de cada consagrado. “Nós amamos porque Ele nos amou primeiro”. (Jo 45,18) É dessa experiência de ser amado que nasce um consagrado. Como explica o Papa Francisco: “A vida consagrada nasce e renasce do encontro com Jesus assim como Ele é… A linha é dupla: por um lado, a amorosa iniciativa de Deus, da qual tudo começa e à qual sempre devemos retornar, e, por outro, a nossa resposta, que é de amor verdadeiro quando imita Jesus casto, pobre e obediente.” (Homilia em 2.2.2018) Esses três Conselhos Evangélicos citados pelo Papa fazem parte essencial da vida consagrada. Vejamos o que eles significam.
A castidade: deixar tudo pela pérola preciosa
“Se fôssemos resumir em poucas palavras o que mais deseja uma pessoa em sua vida, teríamos que dizer que é amar e ser amado. Pela vida consagrada, da entrega virginal este anseio da alma se realiza de forma plena, pois significa pertencer inteiramente à Deus, este Deus que é Amor, que me ama e que me quer ver feliz, é dedicar-se às coisas Divinas e viver Indivisamente unida a Cristo, antecipando aqui na terra o que será a alegria eterna no céu: Eu pertenço à Deus e Ele me pertence”, assim explica Ana Christina Melquiades, do Instituto Nossa Senhora de Schoenstatt. Ela continua a descrever o que entende por castidade: “Entregar-se à vida virginal é realizar-se e ser feliz, fazendo outras pessoas felizes, gerando vida espiritualmente e colaborando para a salvação das almas, é servir com alegria e generosidade, viver em comunhão e não em solidão é sacrificar-se e renunciar em vista de um bem maior, como expressão de amor e confiança. Virgindade, pérola preciosa pela qual vale a pena deixar tudo, para possuí-la.”
Pobreza: tudo pertence a Deus
Horas antes de falecer, o Sr. Manfred M. Worlitschek, Irmão de Maria de Schoenstatt, enviou sua contribuição para este texto. Sem imaginar que em poucas horas faria o seu último e total desprendimento, ele escrevia sobre a alegria e o desafio de sua escolha pela pobreza: “Quando se fala da pobreza, como conselho evangélico, se refere muito mais ao desprendimento do que ao não ter. Quanto mais se tem, tanto mais espírito de pobreza se pode cultivar. Sou apenas um administrador de Deus na utilização das coisas que possuo. Quero seguir o máximo as intenções de Deus no modo como uso as coisas. O que Deus faria com elas? Assim, posso deixar as coisas (desprender-me delas), com muita facilidade e sem queixa, ou posso cuidar delas com extremo carinho, pensando: O que Deus faria com isso, neste momento? Assim, apesar de ter as coisas, eu continuo a ser livre para Deus. Afinal das contas, eu também sou propriedade Dele.” (Contato pelo Whatsapp em 29.1, pelas 15 horas)
Como reza o Pe. Kentenich, “Senhor, pelas mãos de minha Mãe… Minha maior felicidade é devolver-te, sem reservas, tudo o que me deste. Dispõe sempre de tudo, como te aprouver… toma tudo o que me prende e diminui meu forte amor por ti; dá-me tudo o que faz crescer o amor a ti.” (Rumo ao Céu)
Obediência: a decisão por uma liberdade maior!
O Papa Francisco diz que “a vida consagrada escolhe a obediência humilde como liberdade maior.” Ir. M. Alessandra Sissa pertence ao Instituto das Irmãs de Maria de Schoenstatt e explica em que consiste essa liberdade maior: “Trata-se da plena realização do plano original de Deus nosso Pai. A alma consagrada se predispõe para aceitar que Deus se faça presente em sua história, que Ele mude os seus planos e projetos pessoais. Não importa aonde e como sua vontade nos conduz, pois, ela é o caminho mais seguro e o feliz para nossa vida!
Nossa vida de obediência é o que mais causa alegria ao Pai, porque doamos a ele aquilo que mais lhe agrada: o nosso sim! Numa singela fé na providência, o consagrado se abandona e se entrega inteiramente, oferecendo a Deus o que lhe é mais precioso, o dom da liberdade.”
Como afirma o Pe. José Kentenich, a Mãe de Deus reúne em torno de si, “almas dispostas a se vincularem livremente, aos desejos do Pai.” (Cfr. RC 308). Com ele, rezam os consagrados: “Faze que eu me decida, sempre livremente, que só a obediência oriente meu amar e possa realizar-se em minha vida o eterno plano de amor do Pai.” (RC 309)
“A vida de consagração não é simplesmente consagração. É consagração mais profunda, é vivência do batismo em sua plenitude, em sua totalidade na sua dimensão escatológica e definitiva. É viver plenamente a fé, a esperança e a caridade. É viver, sem dúvida alguma, o mistério de Cristo. É viver plenamente a santidade e o serviço à Igreja.” (Dom Antonio P. Misiara) A vocação para a vida consagrada é um chamado de Deus para antecipar, já aqui na terra, a união indivisa a Cristo, sem mediação humana, uma realidade que todos viverão ao chegar um dia no Paraíso.
Rezemos de modo especial pelos consagrados.