“O jovem não tem medo de desafio, tem medo de uma vida sem sentido!” (Papa Bento XVI)
A importância de tirar um tempo e pensar a vocação:
Bárbara Mélo – Na agitação da juventude e no anseio de novas descobertas, o que mais inquieta o coração juvenil é o sentido da vida. Não saber o porquê veio ao mundo provoca um vazio imensurável, causado por dúvidas, indecisões e medo. “Os jovens sentem-se fascinados pela aventura duma gradual descoberta de si mesmos” ¹. Assim, buscar o sentido da vida, desvendar o mais íntimo do nosso ser, implica também na descoberta da vocação que Deus, de modo muito pessoal, escolheu para nós antes mesmo do nosso nascimento.
É um chamado misterioso e, para “captá-lo”, é preciso escutar, refletir, rezar e decidir. Isso nos recorda o momento da Encarnação, no qual Maria, a Mãe de Deus, em sua singeleza, escutou da boca do Anjo Gabriel um chamado. Assim como acontece com os jovens hoje em dia, ela também refletiu sobre esse chamado: “Mas como se fará isso?” – ela questiona. Em seguida, decide-se livremente: “Eis aqui a serva do Senhor” e, em total união com Deus Pai, disse: “Faça-se em mim segundo a Vossa Palavra” (Lc 1, 26-38).
O que devo observar em mim mesmo?
Olhar para si é querer realizar a missão que Deus escolheu para cada um de nós e, para isso, é necessário tirar um tempo para discernir tudo o que se passa no nosso interior, refletir e questionar-se no tocante a:
– Quais os meus anseios?
– Em qual caminho vocacional me sentiria inteiramente feliz, mesmo com os desafios que cada vocação exige?
– Para que tipo de entrega anseia o meu coração?
– É uma entrega para um grupo restrito de pessoas?
– Ou é uma entrega de serviço a muitos filhos espirituais?
Esses pontos nos ajudam a ter clareza sobre a vocação desejada por Deus.
O Documento Final do Sínodo dos Bispos sobre “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional”, em seu segundo capítulo com o título “O mistério da vocação”, ressalta a vocação de Samuel. Ali existem meios para identificar os traços essenciais do discernimento: “a escuta e o reconhecimento da iniciativa divina, uma experiência pessoal, uma compreensão progressiva, um acompanhamento paciente e respeitoso do mistério em ação, um destino comunitário. A vocação não se impõe a Samuel como um destino a se suportar; trata-se duma proposta de amor, um envio missionário numa história de quotidiana confiança mútua”.
Escutar: Para que possamos ouvir Deus em nossa vida, é necessário atitude de oração e silêncio. É fundamental que tiremos um tempo na agitação do nosso dia a dia para contemplar o operar de Deus em nossa vida e poder deduzir a Sua voz em cada acontecimento – é aí também que Deus mostra a nossa vocação.
A iniciativa divina: Em Schoenstatt o Pe. José Kentenich chama a ter uma Fé PRÁTICA na Divina Providência. Tudo que acontece é porque Deus é Pai e tudo que Ele faz é bom para seus filhos, mas necessita de nossa atuação no seu plano de amor. “… a fé na Providência nos apresenta Deus como um Pai sábio, amoroso e poderoso, que dirige os destinos do mundo e de nossa pequena vida com infinito amor, para o nosso maior bem, mas não dispensa de nossa colaboração ativa, vigilante e audaz”².
Qual minha atitude diante de Deus?
Ser filho(a) diante de Deus, reconhecer a fragilidade humana e aproximar-se de Deus como um filho que confia inteiramente em suas conduções e permissões. Devemos ser assim como uma criança que, em seus primeiros anos, depende unicamente dos pais. Essa atitude faz com que atinjamos um profundo relacionamento Pai-filho. Dessa forma reconhecemos a grandeza de Deus e seu infinito amor que nos conduz aos seus braços como um Pai amoroso, para que, unidos intimamente a Ele, inspirados pelo Espírito Santo, possamos realizar de forma sublime o mistério de amor, que é a nossa vocação.
Jesus diz: Tudo o que pedirdes ao Pai, em meu nome, ele vos dará” (Jo 15,16). Como filhos, devemos suplicar a Deus Pai a descoberta de nossa vocação. No entanto, sabemos que tantas vezes pedimos e não recebemos. A descoberta da vocação é um constante pedir, o que quer Deus com isso? Quer de mim um amor filial, uma atitude filial. Assim o Pai, ao encontrar um filho que pede sempre de novo com singeleza e perseverança, atende cheio de amor e misericórdia.
Ao descobrir o grande mistério de amor, que dá sentido à nossa vida, a vocação exige um decidir diário, um sim de amor constante, Deus espera de nós uma entrega radical e fiel no caminho da santidade, que só pode ser dado se nos esvaziarmos do “eu” e nos preenchermos do “Tu”, para que a nossa vocação seja um reflexo da sua santa vontade.
Referências
1 Documento Final do Sínodo dos Bispos, disponível em jovensconectados.org.br
2 Mensagem da Fé Prática na Divina Providência: Série Schoenstatt 2. 4ª ed. Sociedade Mãe e Rainha. Santa Maria/RS, 2006. p 3-59.