Olhar e estar atento às necessidades dos irmãos faz parte da Aliança de Amor
Daiene Delfino – A Campanha do “Setembro Amarelo” foi criada em 2014 com o intuito de promover a prevenção ao suicídio no Brasil, pois, hoje, infelizmente já se trata de um problema de saúde pública. Visto que são mais de 13 mil suicídios ao ano no Brasil e mais de um milhão no mundo, o que resulta, infelizmente, em um suicídio a cada 40 segundos (dados da OMS).
Nesse sentido, como cristãos também devemos olhar para esse tema que é tido como tabu, mas que está muito mais perto do que imaginamos. Existem muitas pessoas em profundo sofrimento que precisam ser olhadas, acolhidas e jamais julgadas.
O suicídio trata-se de um fenômeno complexo, que é multideterminado, ou seja, não existe causa única e em mais de 90% dos casos poderiam ser evitados se essa pessoa fosse tratada e acompanhada em sua dor.
Vale ressaltar que quem tem um comportamento suicida não deseja morrer, ele quer acabar com o sofrimento que está sentindo, mas, devido à profunda desesperança e desespero, não consegue imaginar outra possibilidade. Por isso, ter pessoas que possam ajudar por perto é essencial.
É importante entendermos também que qualquer um de nós pode oferecer escuta e ajuda, mas é imprescindível encaminhar ao profissional de saúde mental, como a um psicólogo e psiquiatra, para que ele seja tratado, pois na maioria dos casos existe algum transtorno mental associado, como a depressão.
No contexto do Setembro Amarelo, gostaria de compartilhar com vocês um fato talvez não tão conhecido em nossa história de Schoenstatt, mas que se faz interessante de notar e, principalmente, de se refletir hoje. Dentre os jovens congregados da geração fundadora do nosso Movimento, um deles cometeu suicídio. Apesar de não conhecermos os motivos reais que o levaram a isso (e eles não nos interessam aqui), vale mencionar que o fato acontece num contexto de guerra, de muita fome, de perdas e desesperança. O Pe. Jonathan Niehaus registra esse caso no livro Heróis de Fogo:
Quadro Memorial, presente no Santuário Original, com os nomes da geração fundadora
“Identificaram-se um total de 198 jovens rapazes como membros da Congregação de Schoenstatt e da Organização Externa nos anos que precederam a guerra e durante a guerra. Destes, 35 foram mortos em combate e quatro morreram de outras causas (incluindo um suicídio). Independentemente do caminho que escolheram na vida, o Padre Kentenich sempre defendeu que a Mãe Três Vezes Admirável permaneceria fiel à sua Aliança e garantiria que Servus Mariae nunquam peribit, um filho de Maria nunca perecerá! Também tinha em conta a fragilidade humana: quando lhe perguntaram se não seria melhor retirar a placa memorial do interior do Santuário Original (que com 109 nomes já era uma lista reduzida baseando-se nos membros ativos em março de 1919 mais os que tinham morrido) já que pouco se sabia deles depois da guerra – ou no caso em que um se suicidou – o Padre Kentenich foi inflexível: ‘Está aqui a prova da fibra dos que a Virgem Santíssima usou para fazer o seu trabalho’.”
Por que eu trouxe este dado? A vida desse servo foi honrada, independente de como foi seu falecimento. Isso nos deixa uma lição: uma vítima do suicídio não pode ser reduzida apenas em sua morte. É um luto muito difícil e impactante para a família e amigos e devem ser respeitados em sua dor, sem julgamentos, e como Cristo fez ao acolher e dar apoio a estes.
Como Família de Schoenstatt se faz necessário estar atentos ao sofrimento do próximo, que pode inclusive estar dentro de nossos ramos, grupos e famílias e promover um espaço de acolhimento e cuidado, pois jamais os sintomas devem ser vistos como “falta de Deus”, pelo contrário, essa pessoa está lutando muito para sobreviver a cada dia, mas nesse momento precisa de ajuda.
Você pode ser um instrumento apto nas mãos da Mãe ao estar atento à dor do seu irmão. Não hesite em conversar, em perguntar, rezar e oferecer sacrifícios por ele. Você pode salvar uma vida!
Daiene Delfino
Psicóloga clínica CRP 04/58804
Poços de Caldas/MG
Sugestão de oração: Novena para cura da depressão