Para o santo do dia a dia, “a natureza é base e fundamento para o sobrenatural; tudo que existe no céu e na terra o eleva às alturas, torna-se ponte e guia para Deus” (Pe. José Kentenich) [1]
Ana Paula Paiva – Nas últimas semanas temos assistido ao aumento dos focos de incêndios florestais, com suas graves consequências econômicas, ambientais e de saúde pública (em face da fumaça que custa a se dissipar).
As causas desses incêndios podem ser naturais (quando as circunstâncias de clima e vegetação o originam sem influência humana) e criminosas (ou seja, originadas por ato humano) e os reflexos na vida cotidiana, tanto das populações diretamente atingidas, quanto na fauna e flora nacional, são enormes.
Em geral, problemáticas de larga escala (que atingem a um número indeterminado de pessoas e que possuem diversas conjecturas, fatores e complexidades) sempre nos fazem exteriorizar nosso senso de injustiça social. Evidentemente deve ser assim, não somos apáticos aos acontecimentos, insensíveis perante a realidade dura do outro. Somos irmãos.
Contudo, esse senso de injustiça – compreensível – deve ser acompanhado também do senso de responsabilidade, ou seja, da conscientização de que faço parte do processo de construção de uma nova ordem social.
Para nosso Pai e Fundador, por exemplo, os elementos que constituem a nova ordem social, tais como a liberdade, a dignidade e a honra, a verdade, a justiça, a solidariedade, a paz e a reconciliação, devem partir da luta pela conquista do homem novo, que vive em uma nova comunidade.
Quando, em Schoenstatt, partimos do microcosmo (do domínio de si e da autoeducação) para o macrocosmo, devemos nos compreender como protagonistas da mudança. Seja através da compreensão, real, dos fundamentos políticos e filosóficos por trás dos acontecimentos, seja por meio de práticas que exercitem a responsabilidade em nosso dia a dia.
Papa Bento XVI (ainda como Cardeal), disse que os sistemas econômicos (e seus reflexos e atividades – aqui tratamos das ambientais) devem depender de um sistema ético o qual, por sua vez, nasce e é sustentado apenas por fortes convicções religiosas (Igreja e economia: responsabilidade para o futuro da economia mundial). Pe. José Kentenich, no mesmo sentido do magistério da Igreja, nos lembra que as mudanças econômicas só poderão ser duradouras se forem fundadas em uma nova concepção de homem, a partir da educação.
Em outras palavras, somente com uma convicção religiosa forte – especialmente no que diz respeito à criação do mundo, sua administração, a valorização da obra de Deus e nossa missão como co-criadores – é que sustentaremos (comunitariamente) um sistema ético capaz de fundamentar decisões econômicas capazes de se responsabilizar devidamente na esfera ambiental.
Retirar a ideia de transcendência, portanto, em nome de um humanismo vazio e suas narrativas, retira também parte essencial da resolução de problemas ambientais: o vínculo – a verdadeira caridade que nos une como comunidade, cujo sistema ético comum e forte é capaz de pautar a forma com que gerimos os pequenos e grandes dilemas.
Que nós possamos mirar nossos olhos no alto, em Deus e sua missão para nós, para que esse Amor nos leve a enxergar a necessidade de nossos irmãos e a gerir com responsabilidade e zelo os bens naturais e materiais que nos foram presenteados.
[1] Pe. José Kentenich. Santidade de Todos os Dias
Publicado em 02 de outubro de 2020