“Existe também uma filialidade não rompida e amadurecida. Devem estudá-la na vida de Santa Teresinha. Nela, a filialidade era extraordinariamente forte” (Pe. José Kentenich) [1]
Juliana Gelatti Lovato – Pe. José Kentenich, nosso fundador, buscou sempre ensinar seus filhos espirituais a buscarem a santidade, dom universal do cristão, e citava frequentemente o exemplo de pessoas que viveram e se santificaram antes de nós. Buscamos seguir seu exemplo, resgatando a história daqueles que são, nas palavras do Fundador, as “causas segundas” de nossa vinculação a Deus.
Santa Teresinha do Menino Jesus e da Sagrada Face
Memória: 1º de outubro
Nascimento: 2 de janeiro de 1873
Morte: 30 de setembro de 1897
Canonização: 17 de maio de 1925 pelo Papa Pio XI
O mês dedicado pela Igreja às missões se inicia com a memória de Santa Teresinha do Menino Jesus, também conhecida como Santa Teresa de Lisieux. Mas o que uma monja carmelita, que literalmente só deixou a casa paterna para entrar no claustro do Carmelo, não tendo nenhuma atividade missionária propriamente dita, tem a ver com as missões? E o que o Pai e Fundador, Pe. José Kentenich, nos fala sobre ela? Vamos conhecer um pouco sua história e sua espiritualidade:
Teresa era a caçula de 9 irmãos, quatro dos quais morreram ainda bebês ou na primeira infância. Por ser a mais nova, era sempre chamada, pelas quatro irmãs mais velhas, de “Teresinha”, nome que conservou ao entrar para a vida religiosa.
Seus pais, Luís Martin e Zélia Guérin-Martin, foram canonizados em 2015 pelo Papa Francisco e são exemplo de santidade na vida matrimonial. Outras de suas irmãs também têm abertos seus processos de beatificação. Esses fatos já demonstram como deveria ser o ambiente familiar onde cresceu Teresinha: um lar profundamente religioso, com hábitos de oração ensinados desde o berço, frequência diária à Santa Missa, confissão regular.
Mas, em sua autobiografia – História de Uma Alma – Santa Teresinha testemunha, também, ter crescido em um ambiente de muito carinho e confiança. Tendo perdido a mãe com 4 anos, suas referências são na maioria às irmãs e ao pai, o qual buscava sempre cultivar momentos de convivência com cada uma das filhas, buscando conhecê-las e cativar sua confiança. Teresinha era sua companheira de passeios pelo campo, durante os quais contemplavam a natureza e meditavam sobre a paternidade de Deus.
Abrigada em Deus Pai
Durante sua infância e adolescência, Santa Teresinha vivenciou o que chamava de “doença dos escrúpulos”, ou seja, tinha um receio muito grande de pecar, considerando qualquer ato descuidado como pecado grave e sofrendo muito interiormente por isso. Faz-nos lembrar da experiência de Ir. M. Emilie Engel, que tinha um temor desequilibrado de Deus e não conseguia sentir-se amada por Ele, curando este mal com a ajuda do Pe. Kentenich. Nesse período, Santa Teresinha contou com o auxílio de sua irmã mais velha e madrinha de batismo, Maria, que com muita paciência e amor ia aos poucos corrigindo a percepção da irmã mais nova.
Aos 14 anos, com duas das irmãs mais velhas no Carmelo de Lisieux e a terceira em outra comunidade religiosa, Teresinha sente-se chamada irresistivelmente à vida religiosa e comunica-o ao pai, que acolhe a vocação da filha com muito amor, mesmo sabendo que não seria fácil concretizá-la tão cedo, já que era costume esperar até em torno de 20 anos para a entrada das jovens em conventos. Ambos vão até o Papa Leão XIII para pedir a autorização, conseguindo a permissão para que Teresinha “saísse do mundo”, na expressão típica carmelita, para viver totalmente para Deus.
Mas como uma menina tão jovem poderia optar por tal vocação? Desde muito pequena ela sentia-se chamada a ser religiosa, desde as brincadeiras da infância. Considerava a vida de oração e serviço a Deus incomparável aos atrativos do mundo, mas também sentiu-se, muitas vezes, dividida: sentia-se atraída, também, pelos grandes feitos, como Joana D’Arc, que liderou soldados em campo de batalha para cumprir a vontade de Deus. Mas, aos poucos, conheceu a missão que Deus lhe dava: “No coração da Igreja, serei o amor”.
O que podemos aprender com ela para nossa vida de Aliança?
Na sua breve vida, podemos ver exemplos claros do que aprendemos em Schoenstatt como a Santidade da Vida Diária, de ser fiel nas pequenas e nas grandes coisas. Em sua autobiografia, ela relata alguns episódios da vida conventual em que buscava exercitar a paciência e a entrega de cada pequeno sacrifício a Deus – o que ficou conhecido como a Pequena Via, seu caminho ascético. Ela conta o quanto buscava sorrir e ser gentil com aquela irmã que não lhe era muito agradável, como aprendeu a agradecer os respingos de água que outra irmã provocava, enquanto elas lavavam roupas juntas, e muitos outros pequenos sacrifícios praticados diariamente – já que por sua saúde frágil era impedida de exercitar o jejum ou ficar longas horas em oração. Ela também é um bom exemplo de como deixar-se guiar pela Divina Providência:
“Padre Kentenich vale-se também de uma imagem usada por Santa Teresinha do Menino Jesus. Ela queria ser como uma pequena bola nas mãos de Deus, de modo que ele pudesse tê-la nas mãos ou, se preferisse, jogá-la a um canto. Sua atitude era: ‘Senhor, faze comigo o que quiseres. Assim como uma criança brinca com uma bola, assim quero ser em tuas mãos’. A ela bastava que Deus a amava e que ela lhe pertencia. Ela queria apenas agradá-lo e dar-lhe alegria em tudo” (cf. Pe. Rafael Fernandez de A. “Sim Pai, Nossa Entrega Filial a Deus”, p. 6).
Nosso Fundador admirava a vivência profunda da filialidade na vida de Santa Teresinha e a indicava como exemplo para a Família de Schoenstatt. Ele nos desafiou a “assumir a filialidade numa forma semelhante à de Santa Teresinha, que, no seu modo de ser filial disse: ‘Sou a bolinha de Deus’. Experimentem ser uma bola Deus e verão que esse caminho não é fácil. Isso desperta o mais elevado heroísmo! Mas devemos conseguir esse heroísmo”. [2]
Padroeira das missões
Um dos fatos que justifica ser a padroeira das missões, é que, já no Carmelo, ela ganhou dois irmãos espirituais que eram missionários. Um seminarista e um sacerdote que já não tinham familiares que rezassem por eles, escreveram para o convento pedindo que a superiora escolhesse uma irmã para que pudessem se vincular com algumas cartas e com cujas orações pudessem contar. Nas duas oportunidades a superiora escolheu Teresinha, que cumpriu fielmente a missão de rezar por seus irmãos espirituais e, por meio deles, fazer que seu ardor apostólico rompesse os muros do convento.
Santa Teresinha morreu aos 24 anos, após longos meses de sofrimento físico causado pela tuberculose. Vivenciou também sofrimentos espirituais, pois, embora ao longo de sua vida tivesse vivido sempre na esperança do céu, durante sua doença não conseguia vislumbrar essa mesma esperança. Mas, não se deixou abater e deu um belo testemunho às suas irmãs, dizendo que, ao chegar ao céu, derramaria uma chuva de rosas, de bênçãos e graças, em todo o mundo. O Pai e Fundador fala sobre ela na conferência que ficou conhecida como o terceiro documento de fundação de Schoenstatt: “Ao infinitismo da profundidade, da altura e da largura, corresponde também o infinitismo do comprimento. Nosso objetivo não vale somente para nós aqui; ou para hoje e amanhã, mas para toda a vida. E o que se abraça, se anela e aspira na terra, com todo o amor pode ser e será – tanto quanto possível – o objeto de nossos cuidados por toda a eternidade. Santa Teresinha estava convicta de que no céu continuaria e completaria a tarefa que tivera aqui na terra. Em nós também vive a singela fé de que todos os falecidos de nossa Família gozam de influência em nossa Obra comum, e no céu, no além, atuam do modo mais eficiente no sentido de nossa missão”.
Poema de Santa Teresinha:
O MEU CANTO DE HOJE
A minha vida é um só instante,
Uma hora passageira
A minha vida é um só dia
Que me escapa e me foge
Tu sabes, ó meu Deus!
Para amar-Te na terra
Só tenho o dia de hoje!
Oh! Amo-Te, Jesus!
A minha alma por Ti suspira
Sê por um só dia
O meu doce apoio.
Vem reinar no meu coração,
Dá-me o teu sorriso
Somente por hoje!
Que me importa, Senhor,
Se o futuro é sombrio?
Nada posso pedir-Te,
Oh não, para amanhã!
Conserva-me o coração puro,
Cobre-me com a tua sombra
Somente por hoje.
Se penso em amanhã,
Temo a minha inconstância
Sinto nascer em mim
A tristeza e o desgosto.
Mas aceito, meu Deus,
A prova, o sofrimento
Somente por hoje.
Quero ver-Te em breve
Nas margens eternas
Ó Divino Piloto!
Cuja mão me conduz.
Nas ondas alterosas
Guia em paz a minha barca,
Somente por hoje.
Ah! Deixa-me, Senhor,
Esconder na tua Face,
Onde já não ouvirei
O ruído vão do mundo
Dá-me o Teu amor,
Conserva-me na tua graça,
Somente por hoje.
Junto do teu Coração divino,
Esqueço tudo o que passa
Já não receio
Os pavores da noite
Ah! Dá-me, Jesus,
Um lugar nesse Coração
Somente por hoje.
Pão vivo, Pão do Céu,
Divina Eucaristia
Ó Mistério sagrado!
Que o Amor produziu…
Vem habitar no meu coração,
Jesus, minha Hóstia branca,
Somente por hoje.
Digna-Te unir-me a Ti,
Vinha Santa e sagrada
E a minha frágil vergôntea
Dar-Te-á o seu fruto
E poderei oferecer-Te
Um cacho dourado
Senhor, desde hoje.
Este cacho de amor,
Cujos bagos são almas
Para o formar só tenho
Este dia que foge
Ah! Dá-me, Jesus,
O ardor de um Apóstolo
Somente por hoje.
Ó Virgem Imaculada!
Tu és a Doce estrela
Que me dás Jesus
E me unes a Ele.
Ó Mãe! Deixa-me repousar
Sob o teu manto
Somente por hoje.
Santo Anjo da Guarda,
Cobre-me com as tuas asas
Ilumina com a tua luz
O caminho que eu sigo
Vem dirigir-me os passos…
Ajuda-me, por ti chamo
Somente por hoje.
Senhor, eu quero ver-Te,
Sem véu, sem nuvem,
Mas ainda exilada,
Longe de Ti, desfaleço
Que o Teu adorável rosto
De mim seja escondido
Somente por hoje.
Voarei em breve
Para cantar os teus louvores
Quando o dia sem ocaso brilhar
Sobre a minha alma
Então, eu cantarei
Com a lira dos Anjos
O Eterno Hoje!
[1] KENTENICH, Pe. José. Ser Filho Diante de Deus, vol I
[2] KENTENICH, Pe. José. Ser Filho Diante de Deus, vol I
*Artigo publicado em 01 de outubro de 2022