Ser santo é um desafio para mim mesmo ou para os outros? Pe. José Kentenich, fundador do Movimento Apostólico de Schoenstatt, estimula cada pessoa a lutar pela santidade na vida diária e sempre afirmava que Maria “pode formar santos para os nossos altares”, basta estar disposto e se entregar a ela.
Vejamos sua palestra aos jovens seminaristas no Dia de Todos os Santos de 1912:
Hoje, Solenidade de Todos os Santos, mostra-nos uma galeria de grandes personalidades: são os santos. Sim, os santos são a flor da humanidade, personalidades íntegras, firmes, livres e sacerdotais.
Não é difícil admitir: “Sim, mas eles são santos. Seu exemplo não tem valor para mim, porque não nasci para ser santo”.
Essa atitude parte de um grande erro. Quem pensa e fala nesses termos nunca tomou consciência de que os santos precisaram, em sua autoeducação, primeiro, superar os mesmos obstáculos que nós e, segundo, dispunham dos mesmos meios que nós. Disso queremos convencer-nos todos.
Meus queridos alunos! Não poucas vezes pensamos que os santos já eram santos no berço, que se tornaram personalidades perfeitas brincando ou, no máximo, por meio de milagres e arroubos.
Sem dúvida sabemos bem pouco de muitos santos, sobretudo dos mais antigos. Mas, por trás dessas breves informações, esconde-se um mar de tempestades, de lutas, de dragões ameaçadores. Não foram os santos seres humanos? Não tiveram eles uma natureza humana igual á nossa? Quem pode duvidar disso? Também não podemos duvidar de que estavam marcados pelas consequências do pecado original. É o que a nossa Igreja nos ensina…
… Se soubéssemos sobre os santos apenas que eram seres humanos, saberíamos o suficiente para nos convencermos de que precisaram superar os mesmos obstáculos que nós. Mas graças a Deus sabemos mais, sobretudo acerca daqueles cuja vida foi pesquisada e descrita mais recentemente. Vamos dedicar alguns instantes a observá-los mais de perto, numa perspectiva humana.
Alguns exemplos
Vejamos Basílio, cujo nome combina as maravilhas com seu espírito verdadeiramente régio. Da juventude à idade avançada, sofre não apenas grande debilidade física, mas também — o que não acreditaríamos, se ele próprio não o confessasse — por ser muito esquecido. Além disso, é nervoso, muito fraco e agita-se facilmente. Qualquer aflição, qualquer trabalho afeta gravemente sua saúde e não passa quase um dia sem que tenha que carregar um grande peso nesse sentido.
Jerônimo, o mais erudito dentre os Padres da Igreja, do qual seus contemporâneos diziam que lera quase tudo; Jerônimo, com sua vigorosa natureza dos guerreiros do clã dos berserk, do qual cada palavra esmagava o adversário como um golpe de espada capaz de fender rochas, esse mesmo Jerônimo dobra-se como um verme sob a violência de tremendas tentações, castigo de sua leviandade na juventude. Toda a resistência de sua férrea vontade e toda a prática de terríveis mortificações não conseguem eliminá-las.
Não tinham os santos as mesmas fraquezas que nós? E não são justamente as suas fraquezas a nossa condenação?
Qualquer desculpa se extingue de nossos lábios diante de um Gregório Magno que, apesar de quase sempre acamado, doente e extremamente fraco, sustentou sobre os ombros as ruínas do velho mundo, ao mesmo tempo em que suas mãos formavam delas um edifício novo. Que diremos ao conscientizar-nos de que Tomás de Aquino, aquele espírito gigante, não escrevia nem lecionava uma palavra sem estar torturado pela enxaqueca? Como desculpar-nos se São Bernardo, com sua ardente eloquência, precisava arrancar toda iniciativa de sua trabalhosa vida a um ataque dos mais dolorosos sofrimentos? Agora começamos, pouco a pouco, a julgar diversamente os santos.
Imaginamos que Paulo, o Apóstolo das gentes, tenha conquistado tempestuosa e rapidamente o mundo, como Alexandre (Magno). Mas a verdade é que geme sob o peso de uma constante enfermidade. Onde quer que ele chegasse, seus companheiros eram recebidos com todas as honras; ele passava despercebido, tão insignificante era sua aparência, tão fraca sua palavra. Que prova para tal espírito ter que lutar com a timidez de uma criança para tomar a palavra, tremer de medo sempre que devia falar em público. Que provação seu acanhamento fazer dele objeto da troça dos seus inimigos. E, por não termos nome para lhes dar, preferimos silenciar sobre as tentações interiores que Deus também o fez sofrer, como se todas as humilhações exteriores não fossem suficientes. Bastarão esses exemplos para nos mostrar como os santos são humanos? Agora, convencemo-nos certamente de que encontraram os mesmos obstáculos que nós na formação do seu caráter.
Porém, de que meios dispunham para vencê-los? … São os mesmos meios que nós também podemos empregar diariamente. Contento-me em apresentar algumas ideias que depois poderão elaborar como quiserem. Caso contrário, temo provar demais vossa paciência, porque com certeza têm novamente muito, muito que estudar…
A própria Igreja acompanha-nos com o seu auxílio: os tesouros de graças dos sacramentos…
Nós também temos diariamente ocasião de fortalecer a nossa vontade, superando as pequenas e grandes dificuldades. Por que ainda hesitamos para iniciar a formação de nosso caráter? Ainda nos falta uma coisa. Precisamos querer, querer seriamente. Diz o sábio Lacordaire’ que em cada um de nós há um santo e um criminoso. Para nos tornarmos um ou outro, só precisamos querer seriamente, com determinação e perseverança. Os santos assumiram diariamente esse e forço de vontade. Eles não são mais do que a boa vontade humana canonizada.Da mesma forma, nós também precisamos querer tornar-nos personalidades livres, firmes e sacerdotais. Precisamos aprender com os santos a arte de querer. Sempre que lemos a vida de um santo devemos dizer-nos: assim como este santo realizou a vontade de Deus em coisas extraordinárias, quero obrigar minha vontade a realizar o mais fielmente possível meus deveres de estado ordinários.
Palestra retirada do livro
Sob a Proteção de Maria – Pesquisas e documentos do início da história de Schoenstatt 1912-1914. Ferdinand Kästner. Sociedade Mãe e Rainha, 1ª edição.
Publicado em: 1 de nov de 2023
Que texto engrandecedor sobre a vida de alguns santos!
Que nós fortalecemos nosso caminhar nesta busca de santidade🙏
Texto excelentíssimo, reflexivo.
Que cada dia possa me lembrar da vida dos Santos e através das minhas dificuldade não desistir de buscar a santidade a cada dia de minha vida