Como schoenstattianos, aspiramos “o mais alto grau imaginável de perfeição de estado e de santidade” [1], mas, nem sempre conseguimos isso e muitas vezes falhamos. Então… tudo bem! O que importa é recomeçar e não desistir!
Karen Bueno – Uma mãe, que um dia pertenceu à Juventude Feminina de Schoenstatt, escolheu o nome “Bárbara” para sua primeira filha. O motivo? Além de gostar do nome, ela queria homenagear a heroína de Schoenstatt chamada Bárbara Kast.
Mas, o que há de tão especial nesta jovem chilena, a ponto de ser homenageada depois de tantos anos após a sua morte? Para essa mãe, a Bárbara “era como a gente”, tinha qualidades e defeitos, uma personalidade forte; e, apesar de tudo, ela foi capaz de vencer a si mesma para crescer na santidade.
Olhando para o caso da Bárbara Kast, uma das coisas que mais encanta é o contraste entre as qualidades e os defeitos, entre os dons e as debilidades pessoais. Quer um exemplo? Ao mesmo tempo que a liderança era uma virtude natural para Bárbara, ela muitas vezes se mostrava explosiva e agressiva para com as outras pessoas – e isso a machucava interiormente. Nela está representado o embate entre o bem e o mal que existe dentro de cada ser humano e, obviamente, também existia nos heróis.
Se parar e analisar, o que atrai nos heróis de Schoenstatt não é a perfeição (todos sabem que ninguém é perfeito), mas a autenticidade e a coragem de combater o que há de pior dentro de si mesmo, chegando a resultados que hoje nos inspiram.
Não é ficção
Você provavelmente sabe, ou ouviu falar, que José Engling precisou cuidar-se em relação ao vício dos jogos durante a guerra. Ele registra isso de maneira muito humilde em seu diário.
Olhando o sorriso de Ir. M. Emilie Engel na única foto colorida que existe dela, nem dá para imaginar o longo processo de crescimento que ela viveu. Além da debilidade física, pela pneumonia, sua maior luta se travava interiormente. Ir. M. Emilie tinha um temperamento introvertido e reservado. Ainda como consagrada, ela guardava dentro de si alguns complexos de inferioridade, por exemplo, doía-lhe a comparação com outra co-irmã que tinha, em sua visão, mais “desenvoltura e talento”. Emilie sentia-se anulada ao seu lado, muitas vezes achava-se totalmente inútil e que não estava à altura de suas tarefas – vencer esses complexos foi um grande desafio que ela precisou enfrentar e hoje sabemos como ela fez isso muito bem.
Analisando a vida de cada herói individualmente, encontram-se traços de suas imperfeições pessoais. Mas, por que os grupos não falam tanto sobre isso nas reuniões e encontros? Não é porque querem representá-los como “deuses”, mas porque essas imperfeições tornaram-se pequenas quando comparadas aos seus exemplos de autoeducação.
Fragmentos da vida real
Para ser herói não é necessário fazer algo extraordinário, não é necessário enfrentar uma doença incurável, estar sob ameaça de bomba ou caminhar 140 mil quilômetros (apesar desses terem sido atos incríveis). Como o Pe. Kentenich ensinou: tornar o ordinário (aquilo que é comum e que fazemos todos os dias) em algo extraordinário. Em outras palavras: lavar a louça pode ser algo heroico, especialmente quando eu não quero fazer e, por exemplo, quando está frio e a água está gelada.
João Pozzobon não é uma pessoa heroica só porque caminhou milhares de quilômetros com a imagem da Mãe. Ele mesmo disse que não valeria nada fazer isso se descuidasse de sua família. João é herói porque cumpria e vencia os pequenos desafios do dia a dia: cuidava da horta com zelo, preparava o café da manhã todos os dias para sua esposa, acompanhava e educava os filhos; cuidava do seu comércio com exatidão, ajudava os pobres; rezava, e rezava muito…
José Engling enfrentou, sim, bombas voando e granadas explodindo. Mas o que o fez grande foi sua fidelidade às pequenas coisas, como no caso do vício: “José sentiu que devia estabelecer a si mesmo uma norma precisa de conduta frente ao jogo de cartas. Se o fizesse por passatempo, para se distrair, não seria nenhuma falta, mesmo que encontrasse nisto um prazer. Se o fizesse por amizade com seus camaradas, poderia transformar-se até num ato de virtude. Mas, que o jogo se convertesse em paixão e o dominasse, isto não podia permitir. Acabaria perdendo a liberdade interior, o domínio sobre si mesmo e arrefeceria seu entusiasmo pela santidade”. O desafio não foi simples; por algumas vezes ele caiu e cedeu ao vício, mas nunca desistiu, até vencer. Na correspondência que ele chama de Carta do Pobre Pecador, escreve ao Pe. Kentenich: “Mais uma vez fui fraco e faltei gravemente. […] De novo quero aspirar à meta visada, com humildade e plena confiança em nossa Mãe” .[2]
Qual o segredo?
Nas histórias de ficção, olhando os super-heróis da Marvel ou da DC Comics, normalmente encontramos alguns elementos fundamentais para a vitória, como uma espada mágica, uma armadura indestrutível, algum capacete extraordinário. Já no caso dos heróis de Schoenstatt, não há objetos de super-poder, no entanto, eles têm sim um elemento essencial que os ajuda nos combates exteriores e interiores: a Aliança de Amor com Maria. O “super-poder” dos nossos heróis é a filialidade vivida com coragem, baseada na autoeducação, no amor e na humildade de recomeçar sempre, afinal de contas, “herói é quem consagra sua vida a uma grande causa” (Pe. Kentenich).
[1] Trecho do Documento de Fundação de Schoenstatt
[2] Herói de Duas Espadas
Publicado em: 29 de ago de 2021