Flávia C. Ghelardi* – Seguimos nosso estudo sobre o Sacramento da Eucaristia e, hoje, vamos falar da Santa Missa.
“A Missa é, ao mesmo tempo e inseparavelmente, o memorial sacrificial em que se perpetua o sacrifício da cruz e o banquete sagrado da comunhão do corpo e sangue do Senhor. Mas, a celebração do sacrifício eucarístico está toda orientada para a união íntima dos fiéis com Cristo pela comunhão. Comungar é receber o próprio Cristo, que Se ofereceu por nós.” (CIC 1382)
A Santa Missa é a renovação da Nova e Eterna Aliança, selada por Jesus, em nosso nome, e pode ser dividida em partes. Entre elas, a Liturgia da Palavra e a Eucarística. Seu ápice é a transubstanciação, quando o pão se torna corpo e o vinho se torna o sangue de Jesus Cristo. Todos somos convidados a comungar desse corpo, sangue, alma e divindade de Jesus, tornando-nos uma só carne com ele, nosso divino Salvador. Ao comungar, somos inseridos nesse sacrifício da Nova Aliança, nos dizemos dispostos a lutar, amar, viver e morrer em Aliança.
Liturgia Eucarística
Assim que que ela começa e o sacerdote nos convida a elevar nossos corações, tem início à chamada “comunhão dos santos”, ou seja, a união da Igreja Militante (nós que estamos ainda aqui nesta terra), com a Igreja Padecente (as almas que estão no Purgatório) e a Igreja Triunfante (as almas, os santos que já estão no Céu). Quando respondemos: “O nosso coração está em Deus”, é como se o Céu se abrisse e nós nos transportássemos até lá, para nos unir aos anjos e santos e louvar a Deus, cantando ou dizendo: Santo, santo, santo…
A última ceia e o Calvário se atualizam em cada celebração
A seguir da oração do Santo, o sacerdote inicia a Oração Eucarística propriamente dita, realiza-se novamente o Rito da Nova e Eterna Aliança. O sacerdote pede ao Pai, que santifique as oferendas do pão e do vinho, que estão no altar e que irão se transformar, com a força do Espírito Santo, no Corpo e no Sangue de Jesus Cristo. “A ação do Espírito Santo e a eficácia das próprias palavras de Cristo proferidas pelo sacerdote, tornam realmente presente, sob as espécies do pão e do vinho, o seu Corpo e o seu Sangue, o seu sacrifício oferecido na cruz de uma vez para sempre… É o “mistério da fé”, como dizemos depois da consagração.” (Papa Francisco)[1] A hóstia e o vinho se transformam realmente no Corpo e Sangue de Jesus. Nesse momento, não somente somos testemunhas do sacrifício de amor infinito que Jesus fez por cada um de nós, morrendo na Cruz, mas, incorporados nele, podemos participar desse sacrifício oferendo no altar os nossos sacrifícios.
Se prestarmos atenção nos gestos do sacerdote/Jesus poderemos captar um pouco mais da beleza infinita desse momento. Da mesma forma que Jesus, na cruz, primeiro inclinou a cabeça e depois, entregou seu espírito, dando seu último suspiro (Jo 18,1), o sacerdote primeiro se inclina sobre a hóstia e depois pronuncia as palavras da consagração, transformando a hóstia em Corpo e o vinho em Sangue. O céu, a terra e o purgatório nesse momento estão unidos, testemunhando esse gesto de amor incomparável que redimiu toda a humanidade. O sacrifício do Filho, ao Pai, com a presença do Espírito Santo, a Trindade derramando torrentes de amor sobre toda a humanidade.
Um gesto de amor incomparável
A liturgia segue com as orações pelos fiéis presentes, pelos fiéis defuntos, pela Santa Igreja e seus ministros e para que todos, possam, um dia, participar da vida eterna com todos os anjos e santos que continuam ainda ali presentes, louvando e glorificando a Santíssima Trindade. Chega então o momento mais esperado, quando cada um de nós é convidado a participarmos desse sacrifício de amor, a nos unirmos intimamente com Jesus, tornando-nos um só corpo com Ele. É um mistério insondável como o próprio Deus quis se unir dessa forma conosco, suas criaturas pecadoras. Ele se deu inteiramente a nós, sem reserva, e o melhor que podemos fazer para retribuir tamanha graça, é nos entregarmos inteiramente a Ele.
Esse momento tão sublime deve ser seguido de uma profunda ação de graças por parte de cada um de nós. Devemos aproveitar ao máximo essa presença, nos entregando a ele, agradecendo por esse momento e fazendo nossos pedidos, principalmente o de vivermos santamente o nosso batismo e sermos filhos fiéis e amorosos, como Ele.
Palavras de S. João Paulo II[3]:
“Sim, queridos amigos, Cristo sempre nos ama! Ama-nos mesmo quando o desiludimos, quando não correspondemos às suas expectativas a nosso respeito. Jamais nos fecha os braços da sua misericórdia. Como podemos não ser gratos a este Deus que nos redimiu, deixando-se ir até à loucura da Cruz? Celebrar a Eucaristia, ‘comendo a sua carne e bebendo o seu sangue’, significa aceitar a lógica da cruz e do serviço, isto é, significa testemunhar a própria disponibilidade para se sacrificar pelos outros, como Ele fez. (…) Vivei a Eucaristia, testemunhando o amor de Deus pelos homens. (…) De modo particular, brote da participação na Eucaristia um novo florescimento de vocações para a vida religiosa, que assegure a presença na Igreja de forças novas e generosas para a grande tarefa da nova evangelização.”
Palavras do Pe. Kentenich:
Pe. Kentenich ensina que a Santa Missa deve ser o centro de nossa vida. Sendo o sacrifício da Nova e Eterna Aliança, nossa Aliança de Amor só faz sentido se conduzir-nos à participação e a vivência diária da Santa Missa. Como sacerdote, ele presidia a santa missa todos os dias, mesmo que isso exigisse dele grandes sacrifícios. Como prisioneiro, presidiu a missa sob risco de ser morto, caso isso se tornasse público e, no Campo de Concentração de Dachau, ia em todas as missas e também a presidiu. Num retiro que fez no ano de 1912, ainda como jovem sacerdote, Pe. Kentenich anotou: “A Eucaristia deve ser o centro vivificador que fecunda todas as obras do dia. Ela contém meu modelo sacerdotal e minha força sacrifical. Minha vida e minha aspiração espiritual têm um objetivo concreto, por isso, na Sagrada Comunhão oferecer conscientemente a Jesus pequenos sacrifícios como dádiva de retribuição – fruto do exame particular ou de outra coisa que tenha feito – e renovar a disposição ao sacrifício para o dia que começa.”[2]
Um testemunho de vida[4]:
Na vida de cada herói schoenstattiano vemos de modo muito claro a centralidade da Missa. Ex. Pozzobon tinha como meta, ao levar a Mãe Peregrina às famílias, conduzi-las ao encontro de Jesus eucarístico. Barbara Kast tinha como meta de vida partir da santa missa como um tabernáculo vivo, portadora de Cristo aos demais. Outro exemplo de amor a Eucaristia, encontramos em José Engling, em seu tempo como soldado sempre buscou oportunidades de poder participar bem da Santa Missa, mesmo que isso colocasse sua vida em risco. Por exemplo, seu amigo Paulo Süchten conta que numa Páscoa, Engling conseguiu levar muitos companheiros para a Santa Missa. Em meio a esta, aconteceu um ataque do exército inimigo: “Mas, eu o vi acolitando a Missa (como coroinha). Como estava concentrado! Parecia alheio a tudo o que se passava ao seu redor. Terminada a Missa, ele se aproximou de mim e me agradeceu cordialmente (por estar ali na missa com ele)”.
Depois de refletir sobre o valor da Santa Missa, que compromisso mais importante do que esse você pode ter no seu dia? A Aliança de Amor se fortalece e ganha sentido real, com a participação da Santa Missa.
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*Flávia e seu esposo Luciano são membros da União de Famílias de Schoenstatt
[1] https://www.vatican.va/content/francesco/pt/audiences/2018/documents/papa-francesco_20180307_udienza-generale.html
[2] Anos Decisivos, Tomo 1 Dorothea M. Schilckmann
[3] XV Jornada Mundial da Juventude. Discurso do Santo Padre João Paulo II, Vigília de Oração, Tor Vergata, sábado 19 de agosto de 2000.
[4] Herói de duas espadas – Olivo Cesca