“Como reinas no alto céu e habitas transfigurado junto ao Pai, estás inteiramente, com teu ser, no santuário do meu coração” (Rumo ao Céu, 143)
Pe. Filipe Araujo – Hoje a Liturgia celebra a Solenidade de Jesus Cristo, Rei do Universo, dando início à última semana do Tempo Comum. O Evangelho segundo São João nos relata o diálogo entre Jesus e Pilatos, marcado pela incompreensão dos homens a respeito da realeza do Filho de Deus. Não é a primeira vez que João nos narra o modo como Jesus evitava que seu ministério fosse confundido com o poder humano. Antes, no contexto da multiplicação dos pães, o Evangelista já havia contado que “Jesus percebeu que iam pegá-lo para fazê-lo rei, e então ele se retirou sozinho, de novo, para a montanha” (Jo 6, 15).
No Evangelho de hoje, Jesus novamente deixa isso claro: “O meu reino não é deste mundo”. A má compreensão da realeza de Jesus se faz evidente: aquele que estava sendo julgado injustamente por ser reconhecido “rei” em parâmetros humanos e políticos é, na verdade, Rei no âmbito divino e da nossa salvação. Jesus trouxe ao mundo a presença misteriosa do Reino de Deus. Trata-se, sim, de um Reino que possui consequências práticas e “políticas”: a justiça e a paz. Mas, antes disso, o Reino de Deus está marcado pelo processo de salvação do ser humano: de cada pessoa em particular e de toda a família humana. Só o ser humano que se abre para ser redimido é capaz de transformar a sociedade.
Ele tem sua origem no Salvador, o “Deus feito Homem”, que veio ao mundo “para dar testemunho da verdade”. E a verdade que Ele nos apresenta é o caminho da nossa Salvação: reconhecer a correta imagem de Deus. Quando reconhecemos quem é o Senhor, também reconhecemos quem é o ser humano e quem somos nós. Desse modo, Jesus nos apresenta uma dimensão da verdadeira identidade de Deus: Ele é um rei distinto aos reis deste mundo.
Um rei deste mundo pode até buscar a justiça, mas a justiça que procura muitas vezes cai em injustiças. Cristo Rei, por outro lado, é aquele cuja justiça é também misericórdia, e por isso é capaz de salvar. Os reis deste mundo podem até buscar o bem das pessoas que foram confiadas a eles, mas muitas vezes podem cair na tentação de buscar somente o bem próprio e das pessoas mais próximas a eles. Cristo Rei é capaz de oferecer a própria vida por todos, porque é o Amor por excelência. Os reis deste mundo podem até buscar a paz para seus reinos, mas essa paz muitas vezes pode vir à custa de violências diversas. Cristo Rei oferece a paz que vem de Deus, uma paz total. O Reino de Deus não é deste mundo, mas foi trazido ao mundo por Jesus. Como Jesus não se cansava de anunciar, “o Reino de Deus está aqui”.
Em termos schoenstattianos, o Reino de Deus aqui na Terra poderia ser descrito como o Homem Novo na Nova Comunidade. Cristo nos renova, nos torna filhos de Deus e, assim, nos dá a capacidade de participar de sua realeza pelo batismo. Ser “reis e rainhas” pelo batismo significa ter a possibilidade de construir uma sociedade baseada no seu amor, na sua justiça, na sua paz. A Nova Comunidade que nós buscamos pela Aliança de Amor com Maria, nada mais é do que o Reino de Deus atualizado em nosso meio. Jesus nos trouxe o Reino e nós podemos mantê-lo vivo e visível sempre que buscamos realizar a vontade de Deus, confiando em seu poder de transformar nossos corações e toda a realidade. Que nossa Mãe, que também é nossa Rainha, nos ajude a trilhar esse caminho, buscando o Reino de Deus em primeiro lugar.
Leituras deste domingo
1ª Leitura – 2Mc 7, 1.20-31
Salmo – Sl 16 (17)
Evangelho – Lc 19, 11-28
Publicado em 2021