Flávia C. Ghelardi* – “Em verdade, em verdade, vos digo: se não comerdes a carne do Filho do homem e não beberdes o seu Sangue, não tereis a vida em vós” (Jo 6,53) Essas palavras de Jesus escandalizaram a muitos, em seu tempo, e várias pessoas deixaram de ser seus discípulos. Naquela época, eles não sabiam sobre a forma de se alimentar do Corpo e Sangue de Jesus, que se dá na comunhão eucarística. Hoje, esse convite é repetido a cada um de nós.
Condições para comungar bem
É o próprio Jesus quem nos convida a participar desse banquete, para que tenhamos vida e vida em abundância! Porém, para responder a esse convite, para esse momento tão grande e tão santo, devemos nos preparar. São Paulo nos adverte: “Todo aquele que comer do pão ou beber do cálice do Senhor indignamente será réu do Corpo e do Sangue do Senhor. Assim, cada um examine a si mesmo, antes de comer desse pão e beber desse cálice, pois aquele que come e bebe sem discernir o Corpo, como e bebe a própria condenação” (1Cor 11,27-29). Desta forma, quem está consciente de um pecado grave deve receber o sacramento da reconciliação antes de receber a comunhão. (CIC 1385)
Além de estar livre do pecado mortal, para se preparar melhor para esse grande momento, a pessoa deve respeitar o jejum eucarístico, que é de pelo menos uma hora antes da comunhão, e a atitude corporal (gestos, roupa) deve traduzir o respeito, a solenidade, a alegria deste momento em que Cristo se torna nosso hóspede. (CIC 1387)
Os frutos da Comunhão
O principal fruto de receber a Eucaristia na comunhão é a união íntima com Jesus. Ele mesmo nos diz: “Quem come a minha Carne e bebe o meu Sangue, permanece em mim e eu nele” (Jo 6,56). Essa união é tão profunda que, enquanto digerimos a hóstia consagrada, o próprio sangue de Jesus se une ao nosso: tornamos uma só carne com Ele. A comunhão da Carne de Cristo ressuscitado, conserva, aumenta e renova a vida da graça recebida no Batismo (CIC 1392).
Outro fruto é que a comunhão nos separa do pecado. Como Jesus entregou seu corpo para nos salvar, a Eucaristia nos purifica ao mesmo tempo dos pecados cometidos e nos preserva dos pecados futuros. (CIC 1393) A Eucaristia fortalece a caridade e esta caridade vivificada apaga os pecados veniais. “Ao dar-se a nós, Cristo reaviva nosso amor e nos torna capazes de romper as amarras desordenadas com as criaturas e de enraizar-nos nele.” (CIC 1394) Por essa mesma caridade, nos preserva dos pecados mortais futuros.
A Eucaristia nos une como corpo místico, a Igreja. A comunhão renova, fortalece e aprofunda a incorporação à Igreja, realizada já pelo Batismo. Fomos chamados a constituir um só corpo no Batismo e a Eucaristia realiza esse apelo. (CIC 1396). “Já que há um único pão, nós, embora muitos, somos um só corpo, visto que todos participamos desse único pão” (1Cor 10,17)
Por fim, ao aumentar em nós a caridade, a eucaristia nos compromete com os mais pobres, pois nos ajuda a enxergar o próprio Jesus nos mais necessitados.
Palavras do Pai Fundador:
Nos primeiros anos de sacerdócio, a sagrada Eucaristia e a sagrada Comunhão eram os temas mais frequentes das homilias do Pe. Kentenich. Ele pregou oito vezes sobre “A sagrada comunhão mais frequente: um desejo de Cristo” e cinco vezes sobre o tema: “Efeitos da sagrada comunhão”.
Nas suas primeiras homilias sobre a eucaristia, ele mostrou que ela não apenas contém “todo o programa de vida cristã”, mas também confere a força “para realizar esse programa”. Define-a como “escola superior de nossa visão do mundo” e chama flamejante de “nossa força moral”. Traça em linhas simples esse programa de vida: Deus que nos criou para si e “é nossa última meta. O mesmo Deus está aqui oculto na forma de pão… A Eucaristia contém (portanto) nossa última meta. Mas também contém nosso caminho a essa meta”; o caminho que é o próprio Jesus, que diz de si: “Eu sou o caminho… Ninguém chega ao Pai a não ser por mim, o Filho” (Cf. Jo 14,6).
A originalidade destas homilias está na descrição do efeito da sagrada comunhão como força que traz unidade e harmonia à natureza humana e à sociedade. A sagrada comunhão cura as feridas interiores das pessoas e as chagas da sociedade.[1]
Os frutos da eucaristia na vida de João Pozzobon
O Diácono João Luiz Pozzobon participava diariamente da Santa Eucaristia. Ele escreve ao seu bispo: “Meu programa diário é a Missa, comunhão, quinze terços, a Via-Sacra e um trechinho do Evangelho”. Quem lê suas biografias logo encontra os frutos da eucaristia em sua vida. Citamos apenas alguns:
União íntima com Jesus – Pozzobon tinha grande intimidade com Jesus, dedicava muito tempo a adoração eucarística, também a noite. Anualmente, dedicava um dia inteiro a visitá-lo em cada tabernáculo da cidade de Santa Maria/RS, onde morava. Partia de casa, ia para a missa das 6h30min, no Santuário, e em jejum percorria as 25 igrejas, deixando uma rosa em cada tabernáculo. Até o meio-dia, tomava só pão e água e na parte da tarde não jejuava porque não era possível. Nesse dia, ele rezava 50 terços.
Unidade como corpo místico, a Igreja – João Pozzobon era unido fielmente aos seus irmãos a toda a hierarquia da Igreja. Sua visita às famílias, presídios e escolas era resultado de seu amor às pessoas e seu desejo de ajudá-las a se unirem como corpo místico de Cristo. Era obediente ao seu bispo, a quem visitava e prestava conta de seu apostolado com a Mãe Peregrina e sobre sua atuação como diácono. Antes visitar as famílias de uma paróquia, consultava o pároco e pedia a sua bênção. Nas visitas, fazia um levantamento sobre a recepção dos sacramentos pelas famílias e apresentava o relatório ao pároco. Em seu testamento escreve que agradece a bênção para a Campanha, “do Pe. Kentenich, dos bispos das dioceses que visitou, a dos bons párocos; em especial, do Bispo Diocesano, a do Santo Padre o Papa, a dos bons sacerdotes palotinos, pois deles muito recebi desde o batismo, e dos mestres schoenstattianos: eterna gratidão!”
Compromisso com os pobres – Conhecemos sua dedicação aos pobres, o lugar especial em sua casa, reservado para servir-lhes alimentos, seu empenho para que conseguissem trabalho, atendimento e moradia, na Vila Nobre da Caridade. Mas, ele se dedicava muito também aos necessitados do alimento espiritual. Um apostolado muito apreciado pelo Sr. João era o de levar a Comunhão aos doentes, especialmente nas primeiras sextas-feiras do mês. Para isso, pediu no dia 6 de fevereiro de 1972, no dia da peregrinação das famílias, o Sr. João recebeu a missão canônica de ministro da Eucaristia, na esplanada do Santuário. No dia 30 de dezembro desse mesmo ano, recebia a ordenação de diácono.
Ele organizou também a visita mensal aos acamados, a domicílio, levando-lhes a santa Eucaristia. Ele conta que, na primeira sexta-feira do mês, distribuía a Santa Comunhão para 45 enfermos. Ele costuma fazer isto todas as primeiras sextas-feiras. Para isso, tinha que se levantar às 4 horas da madrugada.
Fonte:
URIBURU, Esteban. Herói hoje, não amanhã e 140.000 Km com a Virgem
[1] Anos Decisivos, Tomo I Dorothea M. Schilckmann
*Flávia e seu esposo Luciano são membros da União de Famílias de Schoenstatt