Flávia C. Ghelardi* – Em nosso estudo sobre os sacramentos, tratamos aqui dos requisitos necessários para se fazer uma boa confissão e assim receber todas as graças desse sacramento.
Contrição ou arrependimento
O pecado atrapalha a Aliança que selamos com Deus, gera um afastamento dele e, se for de matéria grave, rompe essa Aliança e impede de ir para o Céu, caso não haja arrependimento. Assim, o primeiro requisito para se dirigir ao sacramento da confissão é ter um sincero arrependimento dos pecados cometidos. A Igreja descreve isso, no Catecismo, de contrição, que consiste “numa dor da alma e detestação do pecado cometido, com a resolução de não mais pecar no futuro” (CIC 1451).
Por isso, é muito importante fazer um bom exame de consciência, refletir como estamos praticando os 10 mandamentos, sobre quais deles foram transgredidos, com qual frequência, se houve algum agravante (por exemplo, irar-se contra os pais é mais grave do que irar-se contra um estranho). Além dos 10 mandamentos, pode-se analisar sobre a prática das bem-aventuranças e das obras de misericórdia. Para não esquecer de nenhum pecado cometido, o ideal é anotá-los para relatar ao sacerdote.
A fim de ajudar para que o arrependimento seja sincero, podemos pensar no quanto custou para Jesus a nossa salvação, o quanto ele sofreu em sua paixão e morte para que possamos passar a eternidade feliz no Céu. Com o pecado, nos afastamos negamos esse amor que Jesus nos oferece. Recusamos o imenso dom do amor infinito e escolhemos a rebeldia, o egoísmo e o ódio do inferno.
O arrependimento é um ato da vontade
Mas, é preciso ter muito claro que arrependido não é sinônimo de emoção, sentimento. Uma pessoa pode estar profundamente arrependida, sem derramar uma lágrima. Arrepender-se é reconhecer que o ato cometido é contrário ao amor de Deus para conosco, é ingratidão, ter o sincero desejo de não repetir esse pecado de agora em diante e a disposição em reparar os danos causados. Sabemos que, na prática, não cometer outro pecado é um ideal muito elevado, mas devemos buscar sempre esse ideal por amor a Deus. Esse desejo o mais importante, mesmo que voltemos a pecar.
A confissão dos pecados
Então, nos dirigirmos ao confessionário e falamos ao padre todos os pecados que nos recordamos, desde a última confissão. “Pela acusação (fala), o homem encara de frente os pecados dos quais se tornou culpado: assume a responsabilidade deles e, assim, abre-se de novo a Deus e à comunhão da Igreja, a fim de tornar possível um futuro novo”. (CIC 1455)
Essa declaração dos pecados para o sacerdote constitui uma parte essencial do sacramento da penitência. Deve-se confessar todos os pecados, por mais difícil que seja. Caso intencionalmente a pessoa não confesse um pecado, a confissão toda pode ser inválida e constituir um sacrilégio, ou seja, um desrespeito ao sacramento e se torna um outro pecado. (Veja mais aqui) “Conforme o mandamento da Igreja, todo fiel depois de ter chegado à idade da discrição, é obrigado a confessar seus pecados graves, dos quais tem consciência, pelo menos uma vez por ano. Aquele que tem consciência de ter cometido um pecado mortal não deve receber a Sagrada Comunhão, mesmo que esteja profundamente contrito, sem receber previamente a absolvição sacramental” (CIC 1457)
O ideal é procurar o sacramento da penitência logo que cometer um pecado grave, para não ser surpreendido com a morte nesse estado, o que privaria a pessoa de ir para o Céu. Não devemos ser imprudentes pensando que sempre haverá tempo de confessar, pois não sabemos quando Deus nos chamará para prestar contas de nossa vida.
Após ter confessado todos os pecados, o sacerdote pode dar alguma orientação e diz a fórmula da absolvição, trazendo a alma novamente para o estado de graça e amizade com Deus. Não há declaração de amor maior do que ouvir de um sacerdote a frase: “eu te absolvo dos teus pecados, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo!”
Veja também:
Conselho do Papa a quem tem vergonha de confessar
Quando não é possível confessar?
Pode acontecer situações em que uma pessoa reconhece ter pecado, mas, seja impossível confessar-se, por algum motivo grave, como aconteceu, por exemplo, durante a pandemia. Nesse caso, segundo uma nota do Vaticano, considerando os números 1451 e 1452 do Catecismo da Igreja Católica, a pessoa deve fazer sua “contrição” e, logo que possível, ir ao sacerdote, pois nesse caso, “uma tal contrição perdoa as faltas veniais: obtém igualmente o perdão dos pecados mortais, se incluir o propósito firme de recorrer, logo que possível, à confissão sacramental. Portanto, na expectativa de ser absolvido por um sacerdote assim que as circunstâncias permitirem, é possível ser perdoado imediatamente com esse ato.”[1]
A absolvição
A absolvição tira o pecado, mas não remedia todas as desordens que ele causou. A pessoa deve procurar reparar o mal causado pelo pecado, caso seja possível, como por exemplo, devolver o que roubou ou falar a verdade caso tenha mentido. O pecado fere e enfraquece o próprio pecador (e essa é uma das razões pelas quais é pecado), fragiliza seu relacionamento com Deus e isso também precisa ser remediado.
A penitência é uma forma de reparar os pecados, é um tipo de satisfação ou expiação dos pecados. Assim, o confessor indica qual penitência a pessoa deve cumprir como forma de satisfação dos pecados que acabaram de ser perdoados e a pessoa deve cumprir com exatidão o que lhe foi imposto.
Essa penitência deve corresponder, na medida do possível, à gravidade e a natureza dos pecados cometidos. Pode ser uma oração, uma oferta, alguma obra de misericórdia, um serviço ao próximo, privações voluntárias, sacrifícios e principalmente na aceitação paciente da cruz que devemos carregar. Essas penitências nos ajudam a configurar-nos com Cristo, que, sozinho expiou nossos pecados de uma vez por todas (CIC 1460). Há muitos sacerdotes, que num verdadeiro espírito de amor fraterno, impõem uma penitência “leve” ao pecador arrependido e assume ele mesmo o restante da penitência pelos pecados que foram confessados, para que a pessoa não desanime no caminho da busca da virtude.
Todos nós podemos (e até devemos) fazer penitências e mortificações voluntárias, ou seja, sem serem determinadas pelo sacerdote confessor, ofertando em reparação aos nossos próprios pecados e também aos pecados dos nossos irmãos em Cristo. Somos parte do Corpo Místico de Cristo, assim o que um membro faz de bem, repercute no Corpo inteiro. Desta forma podemos ajudar na salvação e conversão de muitas pessoas.
O Apostolado da confissão
Sendo a Aliança de Amor o carisma do Pe. José Kentenich, é natural que a restauração da Aliança, por meio da confissão, seja um elemento muito importante no apostolado. Vemos, na biografia dos primeiros congregados, por exemplo, como eles se empenhavam para ajudar os soldados a se reconciliarem com Deus, pela confissão. José Fischer escreve ao Pe. Kentenich: “Na semana santa ficamos aqui em descanso; então esforcei-me e consegui contribuir muito para que o batalhão fizesse a confissão pascal. O capelão militar Friedol Mayer disse-me: Agora você é o anjo da guarda do batalhão.”[2]
No próximo artigo trataremos dos efeitos da confissão.
Bibliografia:
[1] https://www.a12.com/redentoristas/noticias/o-que-acontece-quando-nao-confessamos-todos-os-pecados
[2] Dorothea M. Schlickmann, Anos Decisivos, p.407, Sociedade Mãe Rainha, Santa Maria/RS
*Flávia e seu esposo Luciano são membros da União de Famílias de Schoenstatt