Com a expressão “Carta Branca” – um grau mais profundo da Aliança de Amor – Pe. Kentenich expressa uma atitude fundamental do autêntico espírito cristão: a atitude de total entrega à vontade de Deus.
O que supõe este modo de proceder? Pela Carta Branca damos a Deus o pleno direito sobre nossa pessoa e nossos bens, sobre o que somos e temos: Ele pode pedir-nos o que quiser. No entanto, este ato de amor, que exige uma confiança e entrega totais, só pode ser entendido à luz do amor. Pessoas que professam um grande amor, tendem, espontaneamente, a dar Carta Branca um ao outro.
Damos Carta Branca a um Deus que é amor infinito; a um Deus que é tremendamente fiel e “rico em misericórdia” (Ef 2,4), que várias vezes saiu ao nosso encontro, que não cansou de bater em nossa porta (Ap 3,20) e que nos demonstrou o seu amor de mil maneiras. Damos Carta Branca a um Deus infinitamente poderoso que dedica seu poder infinitamente sábio e misericordioso em nosso favor; a um Deus que respeita nossa liberdade e que espera de nossa parte, com muito anseio, uma resposta de amor. Neste contexto é que entendemos a Carta Branca.
Como uma pluma ao vento
Pe. Kentenich procura fazer-nos compreender o conteúdo da entrega no espírito de Carta Branca valendo-se de diversas figuras e descrições. Por exemplo, compara a Carta Branca com uma pluma ou essas sementes que se deixam levar pela brisa, por serem tão leves. Assim deveria ser nossa disponibilidade diante de Deus; quando ele quiser soprar-nos para cá ou para lá, quando quiser deixar-nos tranquilos ou quando sua brisa se converte em furacão, deixamo-nos levar sem resistência. Nossa alma segue seu impulso e nossa vontade não oferece resistência ao querer e aos desejos de Deus, mas deixa-se levar por seu sopro. Tudo isso indica que nossa alma se encontra sob a influência do Espírito Santo.
Em uma definição mais adequada, Pe. Kentenich afirma que a Carta Branca consiste em ter ouvido atento para escutar os desejos de Deus e a docilidade para cumpri-los.
A Carta Branca é expressão da atitude filial do filho diante de Deus Pai. Significa ser plenamente filhos no Filho. Consiste em viver à semelhança e no seguimento de Cristo, a perfeita filialidade, que busca sempre adequar a própria vontade à vontade de Deus Pai. Esta entrega total equivale ao que a espiritualidade tradicional entende por perfeita conformidade com a vontade divina. Quer dizer, nossa vontade conforma-se (toma a forma de) com a vontade divina ou a faz inteiramente sua.
O espírito de liberdade que vem da prisão
Pe. Kentenich introduziu oficialmente a expressão “Carta Branca” na espiritualidade de Schoenstatt em 1939, na ocasião em que apresenta o Segundo Documento de Fundação, quando o Movimento celebra seus 25 anos de existência. Nessa ocasião, ele disse: “É sentimento sumamente feliz e animador, saber que todos os que se encontram reunidos conosco neste momento, em nosso pequeno Santuário, entregaram à Mãe Três Vezes Admirável de Schoenstatt, a Carta Branca sobre si e suas vidas” (II Doc. de Fund. – 24).
A vivência mais profunda da Aliança de Amor, em nível de Carta Branca, ganha vida durante as perseguições nazistas. A total entrega à vontade de Deus que o Fundador demonstra em 20 de Janeiro de 1942, que o torna prisioneiro no campo de concentração de Dachau, é exemplo para a Família de Schoenstatt. Ele busca, com esse ato, conquistar a liberdade interior para seus filhos espirituais e ao mesmo tempo inspirá-los a confiar totalmente na condução divina.
A celebração do jubileu de prata do Movimento e a perseguição nazista movem a Família de Schoenstatt a aprofundar, deste modo, sua entrega ao Senhor e a Maria Santíssima.
Um ato de amor e liberdade
Pe. Kentenich diz que, com a Carta Branca, “repetimos, à nossa maneira, o ‘sim’ e o ‘Eis aqui a serva do Senhor’ que a Mãe de Deus pronunciou na Anunciação”.
Para adequar-se desta forma ao querer de Deus, a pessoa precisa estar livre das amarras do pecado e do egoísmo, de modo que, livremente, sempre possa ter acesso ao que Deus lhe pede. Por isso, neste sentido, dizemos que a Carta Branca consiste na perfeita liberdade dos filhos de Deus, e, em Jesus Cristo, damos um sim de coração ao que Deus Pai nos pede.
Nesta definição destacamos que se trata de uma disposição efetiva. Não é um simples desejo. Trata-se, portanto, de uma aspiração séria à santidade. A santidade consiste precisamente na conformidade de toda a nossa vida com a vontade divina. Esforçamo-nos por agradar a Deus seguindo suas “disposições”, o que Ele realmente quer de nós, e também aceitando suas “permissões”; naquilo que Ele permite pensamos nas cruzes, na dor e em todas as consequências do pecado, que tanto afetam a nossa existência.
Esforçar-se por viver a Carta Branca, significa esforçar-se por viver santamente, quer dizer: deixar que o Espírito Santo atue em nós e imprima o selo de Cristo em nossa alma.
Referências Bibliográficas:
Sim Pai – Nossa entrega filial a Deus. Pe. Rafael Fernandez. Sociedade Mãe e Rainha. 1ª Edição. Santa Maria/RS: 2005.
Uma bela Espiritualidades…e um vasto campo de reflexão para cada um…
Eu não tenho palavras no momento, não consigo transcrever o que sinto lendo esse relato da história de Pe. Kentenich e sua devoção à Maria. É lindo e apaixonante. Assim que possível vou conhecer o Santuário só p estar ou me sentir mais próxima dos dois.
Incrível mesmo como este homem estava repleto do amor de Deus. Só alguém repleto do amor consegue compreender e colocar em prática essas inspirações.