A paternidade segundo o Fundador de Schoenstatt
João Caetano e Maria Inês Faro – Para se entender o pensar do Pe. José Kentenich sobre a paternidade humana, precisamos mergulhar nos seus ensinamentos onde ele sempre apresentou essa paternidade como uma extensão ou reflexo da paternidade divina. Em outras palavras, o Pe. Kentenich ensinava que o pai terreno deve ser um transparente do Pai Celeste. Assim, o bom pai é aquele que encarna ser pai como uma missão e uma extensão a partir da paternidade do próprio Deus – que é o nosso Pai por excelência porque fonte e origem de toda vida.
Como é a paternidade de Deus? Qual é a correta imagem que devemos cultivar de Deus, para então termos um relacionamento correto com Ele? Se quero ser um bom pai para meus filhos, e desejo que meu amor seja reflexo do amor paternal de Deus para eles, então é importante que eu cultive uma imagem correta desse Deus que quero transparecer para os meus.
Comecemos pensando, então, em imagens falsas de Deus, que talvez estejam presentes em nossa vida por uma catequese deficiente, em muitos pontos talvez até mesmo deturpada.
Deus não é assim…
Uma imagem falsa de Deus é, por exemplo, quando nós o vemos como ditador, como – usando aqui uma imagem figurativa – um “inspetor de polícia” que somente se preocupa com o cumprimento minucioso das leis por Ele promulgadas, que fica feliz quando pode punir alguém por uma falta cometida…
Deus também não é um legislador que se compraz em criar normas e mais normas, para atormentar as pessoas que desejam ser fiéis cumpridores dos seus mandamentos…
Deus não é um juiz, preocupado em criar um exército de seguidores que não o servem por amor, mas sim por temor…
Deus também não é um pai “avozinho”, alguém que tem medo de impor exigências aos filhos, que se contenta se as pessoas o colocam num canto da sala, meio esquecido, sem incomodar…
Uma última imagem incorreta, que também podemos citar, é aquela onde Deus é um pai exageradamente humanizado, que não permite sofrimentos e dor ao filho ou o afasta do mistério da cruz.
O Pe. Kentenich, durante toda a sua vida, experimentou e pregou o amor ao Deus verdadeiro, ao Deus dos altares – basta ver como o Fundador valorizava a Eucaristia e demais sacramentos -, ao Deus das Sagradas Escrituras – recordemos as orações que ele compôs no Rumo do Céu –, mas, sobretudo, durante toda a sua vida, o Pe. Kentenich buscou e amou o Deus da vida e da história. É esse Deus que ele nos apresenta como modelo de verdadeira paternidade a ser seguido. E o próprio Pe. Kentenich viveu esse modelo na sua vida na medida em que foi se entendendo não somente como o fundador de uma grande Obra, mas como pai para muitos, a quem hoje chamamos de Pai e Fundador da grande Família de Schoenstatt no vasto mundo.
Que características tem esse pai que o Pe. Kentenich nos apresenta, imagem e transparência de Deus?
É um pai educador, um pai bondoso, mas também ciumento, e, sobretudo, um pai misericordioso. Um pai revelado nas escrituras como o que nos cria e vai formando através da história, como está escrito: “Contudo, Senhor, tu és o nosso Pai. Nós somos o barro, tu és o oleiro. Todos nós somos obra de tuas mãos” (Isaias 64, 8).
O Pe. Kentenich nos apresenta um ideal do homem a ser perseguido, ou seja, o barro deve ir sendo moldado pelas mãos do oleiro. De acordo com a sua natureza, o ideal do homem é ser “puer et pater”, ou seja, ser “filho e pai”. Ninguém pode ser pai se, antes, não aprendeu a ser filho. A paternidade terrena, inicialmente, é expressão da paternidade cuja origem é Deus. Depois, é um meio para gravar no filho a paternidade divina. Por último, é também uma contínua proteção da imagem do pai natural e do Pai Celestial para os filhos. O homem começa a ser pai quando aprende a educar-se a si mesmo. Ao iniciar esse processo de autoeducação, o homem se reconhece pequeno, filial, se coloca singelamente nas mãos de Deus. Por essa atitude vivencia o que Jesus ensinou: “Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos tornardes como as crianças, de modo algum entrareis no Reino dos Céus” (Mt 18, 3).
Buscando a vinculação com o Pe. Kentenich, lutemos por restaurar a figura de Deus como Pai em nossa vida, em nossa casa, na sociedade em geral e na Igreja. Seguindo os passos do Pai e Fundador, sejamos educadores educados, saibamos formar nossos filhos apontando-lhes elevados ideais e aprendamos a impor exigências sadias aos nossos filhos, com a firmeza necessária sempre misturada com ternura e misericórdia. O Pe. Kentenich ensinou, pela sua vida, que a educação é processo que exige amor, mas também liberdade, pois jamais se conseguirá educar verdadeiramente numa atmosfera dominada pelo medo.
Que nesse mundo confuso em que vivemos hoje, marcado por falsas imagens de Deus e por confusos conceitos de educação, possam os ensinamentos do Pe. José Kentenich ser uma luz para todos aquele que deseja educar de maneira correta e eficaz formando, em seus filhos e educandos, personalidades livres, fortes e com o coração no mais além.
* Contribuição do Instituto de Famílias de Schoenstatt