Ir. M. Nilza P. da Silva – Sabemos que ser schoenstattiano significa educar a si mesmo constantemente. Constantemente, precisamos “endireitar os caminhos e aplainar as veredas” que há em nós, a fim de dar espaço para o atuar de Deus em nosso coração. Vamos aproveitar esse tempo de graças para conhecer os três lados de sombras e de luzes que o Pe. José Kentenich, quando visitou a nossa pátria, indicou para a nossa autoeducação. Ao mesmo tempo, é importante lembrar que essa caracterização mencionada pelo Pe. Kentenich é generalizada, não significa que todos nós as temos em alta intensidade.
Pedimos para a Ana Beatriz Biagioli Manoel Suzan, que é Logoterapeuta e pertence à União de Famílias de Schoenstatt, nos falar sobre esse tema, pois isso pode ajudar-nos a termos clareza de quem somos e escolhermos os pontos certos na autoeducação. Deixemos que a Ana nos fale:
Pe Kentenich era um exímio conhecedor da pessoa humana, ele captava a essência de cada pessoa que por ele passava, ao se encontrar com os brasileiros e com os latinos de uma maneira geral, não deve ter sido diferente, por isso em sua visita ao nosso país, logo percebeu o “tipo brasileiro”.
As três sombras do “tipo” brasileiro
Quando esteve em Santa Maria/RS, proferiu uma conferência, no dia 7 de abril de 1951, na qual ele caracteriza o “tipo” brasileiro, indicando três sombras que dificultam a formação da personalidade. Quando paramos e fazemos uma análise honesta de nós mesmos, das pessoas com as quais convivemos, do povo brasileiro, percebemos que as três sombras são verdadeiras. Podemos dizer que existe essa “predisposição” às três sombras.
De modo geral, o brasileiro é ensinado a buscar tudo, menos o conhecimento do seu mundo interior. Por exemplo, passamos a vida inteira em busca de realização pessoal, achando que ela acontecerá no sucesso profissional ou em ser bem-sucedido financeiramente.
Mas como será que essas três sombras dificultam a formação da personalidade? Vejamos:
1. O complexo de inferioridade, que provém da “comparação entre as culturas. A consequência ainda se aprofunda pela comparação instintiva que se faz frequentemente entre os povos latinos”
O complexo de inferioridade
Iniciemos pela primeira sombra que o Pe. Kentenich nos apresenta. O que é o complexo de inferioridade? É a pessoa se sentir inferior aos padrões sociais e está diretamente relacionado a uma falta de autoconhecimento, a uma dúvida sobre si mesmo, o que leva a uma autoestima inadequada. Aqui é importante entendermos que autoestima não é amor por si mesmo, mas sim a ponderação, ou seja, conhecimento e valorização de mim mesmo, com minhas forças e debilidades.
Então, por que o complexo de inferioridade dificulta a formação da personalidade? Porque a pessoa não tem um olhar saudável para si mesma, não se conhece e fica se comparando com outras pessoas, com o que dizem sobre ela, acha que não consegue mudar, favorecendo uma autoestima inadequada.
Como percebo, se tenho complexo de inferioridade?
A primeira coisa é perceber o quanto nos comparamos com as outras pessoas, seja família, amigos, colegas de trabalho e hoje em dia com os mais diversos influencers.
Pode-se fazer uma analogia com a madrasta da Branca de Neve: “Espelho, espelho meu, existe alguém mais bela do que eu?” Será que me comporto como a madrasta? Enquanto o espelho está dizendo que sou a mais bela, está tudo bem. Mas, o que faço quando ele diz que não sou mais? Será que o mais importante é o que dizem quando me veem? Muitas vezes, o que se vê não é necessariamente o que realmente sou.
O complexo de inferioridade pode ser uma sombra. Mas, como ensina São Paulo, é justamente na nossa fraqueza que somos fortes. (II Cor 12, 10). Por isso, é importante esse caminho do autoconhecimento, como bem nos ensina o Pe. Kentenich. Pois, na medida que tenho consciência das minhas forças e das minhas fraquezas, reconheço quem de fato sou. Isso se chama: humildade. Então, posso trabalhar em minha autoeducação, nos pontos que me puxam para baixo, e com as minhas forças adequar minha autoestima.
O Sistema Pedagógico de Schoenstatt nos brinda com o autoconhecimento e a autoeducação, essa última como um imperativo para a vida inteira, segundo nosso Pai e Fundador.
O autoconhecimento é suficiente?
Para muitas pessoas sim, para outras não. Algumas vezes, quando existe uma incapacidade de lidar com a realidade, a ponto de a pessoa apresentar perda de sua funcionalidade, faz-se necessário buscar uma ajuda profissional, seja de um psicoterapeuta, psicólogo ou até mesmo um psiquiatra.
Quero lhe fazer um convite, rumo ao amadurecimento: Conheça-se! Já aviso que é difícil conectar-se consigo mesmo, porque é preciso sair da superfície. Muitas vezes, não gostamos do que vemos, porque acreditamos ser algo que nos enoja ser. Mas, é preciso aprofundar na sua essência. Na medida em que você vai se aprofundando em si mesmo, vai aprendendo a administrar o que de fato é, a usar todos os recursos que têm e valorizar tudo o que pode.
E não se esqueça de que somos criaturas, únicas, irrepetíveis, filhos (as) amados (as) de Deus, que nos compreende e que nunca desiste de nos estender a mão, dando-nos a força necessária para perseverarmos e nos tornamos quem somente nós podemos ser, mais ninguém.
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E aí? O que achou? Quer saber quais são as outras cinco características? Fique atento por aqui…
Veja também:
Os lados de sombra de nosso tipo brasileiro
1 – O complexo de inferioridade
3 – Movidos pelos sentimentos (falta de exigências)
As luzes de nosso tipo brasileiro
Acho que somos mais que isso. O Senhor plantou no nosso coração o desejo de Deus. Como criaturas que somos temos no coração o desejo da transcendência. Pela graça e não por nossos méritos procuramos as coisas do Alto. A afirmação desse “complexo de vira-lata” assim chamado por Nelson Rodrigues existe, mas temos que lembrar nossos irmãos que o dono do mundo é Deus, como somos filhos Dele somos filhos do dono. Isso não é pouca coisa. Kkk
Resposta: Isso mesmo. Como está escrito no texto, esta é apenas a primeira de outras características. Acompanhe as próximas publicações e a senhora verá as coisas lindas que Pe. Kentenich encontra em nossa originalidade.
Não conhecia essa análise do Pai Fundador e achei muito importante!
Acredito piamente que temos, lá no inconsciente, ou até com muita consciência esse complexo que paralisa, essa atitude de culpa eterna pelas falhas que se repetem e o desânimo subsequente que impedem nossa evolução prática!
Há pouco tempo li uma reflexão que é importante entregar para Jesus todas as nossas falhas e pecados, são nossas únicas propriedades pois o resto todo são graças e dons de Deus!
Que a Mãe Educadora continue nos levando pela mão no caminho iluminado de Nossa Aliança de Amor. Amém.